segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

É guerra atômica no BB: saiba quem é quem



É guerra atômica no BB: saiba quem é quemFoto: Divulgação

A DISPUTA PELO COMANDO DO MAIOR BANCO BRASILEIRO JÁ TRANSBORDOU AS FRONTEIRAS DA INSTITUIÇÃO; É UM JOGO PESADO, QUE ENVOLVE BILHÕES E DISPAROS CONTRA GUIDO MANTEGA, RICARDO FLORES, SÉRGIO ROSA E ALDEMIR BENDINE, ENTRE OUTROS GENERAIS; A PRESIDENTE DILMA PODE SE VER FORÇADA A INTERVIR

13 de Fevereiro de 2012 às 16:46
Leonardo Attuch _247 – O Banco do Brasil está em guerra. E os disparos, cada vez mais frequentes, podem causar estragos significativos ao governo da presidente Dilma Rousseff. Até algumas semanas atrás, tratava-se de uma guerra surda entre alas rivais. Hoje, a disputa começa a transbordar para a imprensa e a ganhar também contornos policiais. Na sexta-feira passada, a coluna Painel, da Folha de S. Paulo, informou que o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia, decidiu retaliar o governo Dilma em razão de mudanças internas promovidas pela instituição – peças indicadas por Maia foram afastadas pelo presidente Aldemir Bendine, conhecido como Dida, numa troca recente de 13 diretores (leia mais aqui). Também no Painel da Folha, informou-se que a demissão do vice-presidente Allan Toledo, noticiada em primeira mão pelo 247 (leia mais aqui), teria sido motivada também por movimentações atípicas detectadas pelo Coaf, órgão do ministério da Fazenda que investiga lavagem de dinheiro. Ainda no Painel, fechava-se com a informação de que toda essa confusão teria como objetivo derrubar o presidente Bendine do comando do banco. E o principal interessado seria ninguém menos que Ricardo Flores, presidente da Previ, o fundo de pensão dos funcionários do BB e também maior acionista do banco. Em resumo, uma guerra atômica.
A disputa no Banco do Brasil, no entanto, é bem mais complexa e remonta à transição do governo Lula para o governo Dilma. Naquele momento, o executivo Sérgio Rosa, ligado ao sindicato dos bancários de São Paulo, na turma de Ricardo Berzoini, Luiz Gushiken e João Vaccari, estava concluindo seu segundo mandato à frente da Previ. Sonhava assumir a presidência do Banco do Brasil, no lugar de Bendine. E foi justamente no final de 2010 que começaram a circular dossiês apócrifos contra a atual administração do Banco do Brasil. Contra Aldemir Bendine, dizia-se que ele havia adquirido um imóvel no interior de São Paulo pagando em espécie. E contra Paulo Caffarelli, um dos vice-presidentes mais fortes da instituição, que ele encaminhava pedidos de Marina Mantega, filha do ministro da Fazenda, dentro da instituição.
Esses dossiês fizeram com que Mantega se fechasse ainda mais com o grupo de Bendine e Caffarelli. Sérgio Rosa não conseguiu ser presidente do Banco do Brasil nem fazer seu sucessor na Previ. Ganhou como prêmio de consolação a presidência da Brasilprev, a empresa de planos de previdência do Banco do Brasil. E foi neste momento que uma nova frente de batalha teve início no mundo bilionário do BB e dos fundos de pensão. Com Sergio Rosa enfraquecido e Roger Agnelli, ex-presidente da Vale, vivendo seu inferno astral, Aldemir Bendine, o Dida, passou a sonhar com a presidência da Vale. Seria necessário, neste caso, fazer com que Paulo Caffarelli assumisse o comando da Previ, que, além de maior acionista do BB, é também sócia majoritária da mineradora.
O grande arquiteto desse projeto é aquele que, hoje, talvez seja a figura mais poderosa do Banco do Brasil. É o discretíssimo vice-presidente Ricardo Oliveira, que é apaixonado por jogos de estratégia, em especial pelas grandes batalhas da Segunda Guerra Mundial pelo lado alemão. Foi Oliveira quem soprou aos ouvidos de Gilberto Carvalho, em 2008, que Dida deveria ser presidente do Banco do Brasil. E, desde então, ele vem sistematicamente ampliando seu raio de influência na instituição. Ainda que seja subordinado ao presidente, Oliveira exerce influência direta sobre Dida e também sobre Caffarelli. O jogo era claro. Caffarelli iria para a Previ, Bendine para a Vale e Oliveira indicaria um de seus homens no BB para o comando da instituição. Em relação ao PT, as pontes de Oliveira são Gilberto Carvalho e Delúbio Soares.
Ocorre que esta solução seria uma humilhação completa para o grupo sindical incrustado no Banco do Brasil. Além de perder com Sérgio Rosa, perderiam também na Previ e na Vale. Seria o equivalente a uma declaração de guerra do governo Dilma a um dos grupos mais fortes do PT. E foi assim que Guido Mantega e o ex-presidente Lula, que discutiam a sucessão na Previ, passaram a buscar um nome de consenso, um “tertius”. A escolha, neste caso, acabou recaindo sobre Ricardo Flores, de perfil técnico, que era vice-presidente de crédito do Banco do Brasil e que se tornou conhecido de Lula e Mantega na crise financeira de 2008, quando o BB reduziu spreads e expandiu o crédito. “Quero o pernambucano”, disse Lula, batendo o martelo em relação a Ricardo Flores.
Mudanças sucessivas
Na mudança, nem os sindicalistas venceram, nem o grupo orgânico do BB, liderado pelo estrategista Ricardo Oliveira. Ainda assim, este segundo grupo passou a esperar que Ricardo Flores, na Previ, indicasse Bendine para o comando da Vale – o que não aconteceu. E todas as intrigas internas no Banco do Brasil, antes atribuídas a Ricardo Berzoini e sua turma, passaram a ser debitadas na conta de Ricardo Flores.
Depois disso, o grupo dominante no Banco do Brasil passou a adotar decisões de alto risco, para fortalecer seu domínio sobre a instituição. A primeira foi a tentativa de transferir a área de marketing de Brasília para São Paulo, centralizando na capital paulista gastos gigantescos. Tal medida foi abortada por interferência direta da presidente Dilma Rousseff, que ficou incomodada com o esvaziamento político e econômico da capital federal.
Em seguida, veio a demissão de Allan Toledo, que não era alinhado ao grupo de Ricardo Oliveira, Paulo Caffarelli e Aldemir Bendine. E mais recentemente, a aposentadoria forçada de quatro diretores também não alinhados e uma dança de cadeiras em 13 postos relevantes do banco.
O quadro atual
Hoje, o clima no BB é de guerra atômica. Uma nova nota na coluna Painel de hoje informa que os boatos por trás da possível queda do ministro Guido Mantega, noticiada em primeira mão pelo jornalista Vicente Nunes, do Correio Braziliense, e repercutida aqui no 247 (leia mais aqui), teriam como pano de fundo a disputa por cargos no Banco do Brasil.
Não se sabe, de fato, se o presidente da Previ tem interesse na queda de Aldemir Bendine. O que é fato é que ele, efetivamente, não trabalhou para que Dida assumisse o comando da Vale. Mas Ricardo Oliveira, o estrategista maior dessa guerra, se pudesse, enviaria o xará Ricardo Flores para um desterro na ilha de Santa Helena. Só não faz isso porque o presidente da Previ desfruta de um mandato e conquistou o apoio dos sindicalistas, ligados a Ricardo Berzoini e João Vaccari.
Além dos disparos, sobram as intrigas. E não parece ser coincidência o fato de que o ministro Mantega, incomodado com o fogo amigo que o atinge, tenha chamado os fundos de pensão, especialmente a Previ, para explicar por que pagaram tão caro nos leilões dos aeroportos (leia mais aqui).
É uma guerra pesada e que só causa danos ao governo federal. Eis algumas inconveniências que já vazaram desde o início da briga:
- o atual presidente do BB comprou um apartamento pagando à vista
- a filha do ministro da Fazenda pedia favores na instituição
- um vice-presidente foi demitido por movimentações atípicas no Coaf
- demissões recentes foram fruto de uma pesada guerra interna
- os fundos de pensão podem ter inflado os ágios na compra dos aeroportos
Antes de toda essa confusão, a agenda do BB era positiva. Era o banco que, na crise de 2008, teve papel decisivo na política anticíclica e contribuiu para reduzir spreads e expandir o crédito.
A agenda atual certamente não interessa à presidente Dilma Rousseff, que pode se ver forçada a intervir, assim como fez na disputa recente da Caixa Econômica Federal, que quase gerou um "banho de sangue" entre diretores indicados pelo PT e pelo PMDB.

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