quinta-feira, 8 de maio de 2014

De quem é a culpa pela falta der água em São Paulo?


De quem é a responsabilidade pela crise hídrica? Uma comparação entre a pesquisa do Datafolha e a do Data Popular


Por sergiorgreis

Uma comparação entre os resultados encontrados na pesquisa feita pelo DataFolha, há cerca de um mês, e os publicados hoje pelo Data Popular permitem uma análise interessante sobre as interpretações que são disseminadas a respeito da crise da água (e da tentativa de se associá-la ou compará-la a uma crise elétrica), bem como a respeito do próprio modo de operacionalização dos levantamentos e, por conseguinte, da sensibilidade social efetiva a respeito dos problemas abordados, que pode externar percepções absolutamente distintas sobre o mesmo fenômeno – que pode, no limite, dar ensejo até ao questionamento a respeito da lisura de um ou outro levantamento, dada a diferença encontrada nos resultados.

Tudo bem que a pergunta não é exatamente a mesma, nem o território pesquisado é idêntico. Mas é muito curioso observar a imensa diferença no padrão de respostas encontrado na pesquisa Datafolha, de cerca de um mês atrás, e a realizada agora pela Datapopular e citada na coluna de Monica Bergamo. Naquela, questiona-se se o Governo Federal tem muita, pouca ou nenhuma responsabilidade pela falta d'água, depois o mesmo sobre o "Governo Estadual", as Grandes Empresas e a própria população. As respostas foram dividas por região do país. No Sudeste, 58% dos entrevistados acreditam que o Governo Federal e o Governo Estadual têm muita responsabilidade sobre a crise hídrica. É um contingente bastante expressivo e absolutamente equivalente. Encaixa-se bem no tipo de diagnóstico que a Folha busca passar diariamente ao seu leitor, quando busca colocar no mesmo patamar de gravidade a tragédia do Sistema Cantareira e os níveis da represa de Furnas (que estão, hoje, ainda baixos, mas 4 vezes acima do patamar do apagão de 2001). É, claro, uma estratégia de divisão de ônus pelo que está ocorrendo (a pergunta, inclusive, é feita de modo a misturar a questão do abastecimento de água com a questão elétrica). Os detalhes do questionário podem ser vistos aqui: http://media.folha.uol.com.br/datafolha/2014/04/08/racionamento-agua-e-energia.pdf

Os dados do Instituto Data Popular, abaixo, dimensionam o problema de forma absolutamente distinta, e apontam indícios dos efeitos eleitorais a respeito do racionamento branco implementado por Alckmin. Restrita ao Estado de São Paulo e ao problema hídrico, o levantamento indica não só que 30% dos paulistanos (e 23% dos paulistas) entrevistados ficaram sem água recentemente, mas também que a população identifica a gestão Alckmin como a principal culpada pelo problema, 70% das respostas, ao passo em que o Governo Federal recebe apenas 9% das atribuições nesse sentido. Ainda que as pesquisas sejam razoavelmente diferentes, as discrepâncias dos resultados são muito significativas, e permitem, no mínimo, questionar a abordagem dada pelo instituto da Folha nesse levantamento (cujos resultados ganharam considerável repercussão no momento da publicação, ensejando análises bastante enviesadas pelos colunistas do jornal a respeito ou da culpa do Governo Federal pelo problema apontado, ou da impossibilidade de abordagem eleitoral do tema, considerando-se que a sensibilidade popular culpava igualmente a gestão petista pela crise).

Vale, enfim, rememorar uma bizarra pergunta feita ontem por um jornalista da rádio Jovem Pan ao candidato Alexandre Padilha na sabatina de ontem: "O sr. não acha antiético explorar o problema da falta d'água em pleno ano eleitoral?". Por mais inacreditável que possa parecer a questão, ela guarda um fundamento interessante: a crise hídrica não ocorre, de forma alguma, por leniência, leviandade ou, simplesmente, por falta de planejamento da SABESP. É conspiração divina, ou de São Pedro, contra o pobre governador tucano, de mãos atadas frente a natureza – desde 1995, aparentemente.

"Os dados são de pesquisa do Instituto Data Popular, que ouviu 18.534 pessoas em 70 cidades do Estado. Pelo levantamento, 59% dos paulistas acreditam que sofrerão com falta d'água até o fim do ano. E apontam como principal culpado pelo problema o governo estadual (41%), a Sabesp (29%), o governo federal (9%) e a falta de chuva (7%)."

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2014/05/1450395-falta...

http://jornalggn.com.br/blog/sergiorgreis/de-quem-e-a-responsabilidade-pela-crise-hidrica-uma-comparacao-entre-a-pesquisa-do-datafolha-e-a-do-data-popul

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