quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Frio e discreto, Aldo perde e ganha sem emoção



Frio e discreto, Aldo perde e ganha sem emoçãoFoto: ANDRE DUSEK/AGÊNCIA ESTADO

COM IMPORTANTES VITÓRIAS POLÍTICAS, DA PRESIDÊNCIA DA UNE À DA CÂMARA DOS DEPUTADOS, NOVO MINISTRO DO ESPORTE ENTRA FORTE NO GOVERNO EM POSIÇÃO QUE PODE TORNÁ-LO NACIONALMENTE POPULAR; ELE COSTUMA APROVEITAR BEM AS CHANCES

27 de Outubro de 2011 às 14:40
Marco Damiani_247 – Com um chapéu de couro marrom com abas moles enterrado na cabeça, taça de vinho repousada à mesa de um elegante apartamento dos Jardins, em São Paulo, o hoje novo ministro do Esporte Aldo Rebelo ouviu calado quando, via telefone celular do amigo ao lado, chegou a notícia de que o ex-chanceler Celso Amorim havia sido nomeado ministro da Defesa.
- É uma boa escolha. Eu sou candidato ao TCU.
Semanas depois, outra vez Aldo sofreria nova derrota, quando o rolo compressor da candidatura Ana Arraes alquebrou uma a uma, na Câmara dos Deputados que ele presidira (2005-2007), suas chances de conseguir o posto que, paradoxalmente, representaria sua aposentadoria política. Outra vez, a exemplo do que sucedera quando viu a Defesa escapar-lhe, Aldo não deu um pio de reclamação.
Agora, porém, a sorte lhe sorriu. A posse de Aldo no Ministério do Esporte está marcada para a próxima segunda-feira. Hoje, ele chegou por volta das 11h30 ao Palácio da Alvorada, onde se reuniu com a presidente Dilma Rousseff e com o presidente nacional do seu partido, Renato Rabelo. Questionado por jornalistas em sua chegada, ele negou que já estaria confirmado como novo ministro. Outra vez demonstrou sua frieza. À saída, já com o convite oficialmente aceito, disse poucas palavras:
- Aceitei o convite da presidente Dilma. A transição ainda será iniciada.
Para este deputado de cinco mandatos, cururu de carteirinha – é filiado ao PCdoB desde 1977 --, cujo DNA é marcado pelo exercício da secretaria-geral e da presidência da UNE, a emoção não faz parte do jogo. Aldo é um quadro frio.
Ao ruminar em silêncio as derrotas recentes, ele automaticamente se requalificou como candidato coringa da presidente Dilma Rousseff para a primeira eventualidade.
No Esporte, Aldo estará no epicentro dos acontecimentos mais importantes e populares que envolverão a sociedade brasileira – a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Obterá projeção nacional e passa a fazer parte, assim, do pequeno rol de políticos em posição estratégica não apenas para influir, mas participar diretamente das eleições presidenciais de 2014. Em tese, ele, por mais que não goste da antecipação, desponta desde logo como um ‘vice-presidenciável’.
Até chegar lá, porém, Aldo não terá uma vida exatamente fácil. Ao que se viu pela ponta do iceberg da relação entre o Ministério do Esporte e as ONGs pilotadas pelo PC do B, ele terá de desmontar uma grande teia de interesses cruzados, da qual fazem parte chefes e militantes de seu próprio partido. No front externo, vai herdar um relacionamento tenso com a Fifa – uma das recomendações ao novo ministro tornadas públicas pelo Palácio do Planalto foi a de não se aproximar demais da entidade e seus executivos – e uma salada de grandes obras cujos cronogramas estão absolutamente fora de sintonia.
O Maracanã vai ficar pronto para a Copa das Confederações, um ano antes do Mundial de 2014? Porto Alegre terá a Copa no estádio do Inter ou do Grêmio? O que haverá de realidade nos projetos de mobilidade urbana? Interrogações bastante objetivas deste tipo passarão a ser digidas a Aldo, que vai precisar mais do que habilidade, mas de verdadeira organização, para se sair com boas explicações. A ver.

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