Por Daniela Pinheiro
Sentado à cabeceira de uma mesa de compensado branco, o secretário de Meio Ambiente de São Paulo e pré-candidato à prefeitura da capital, Bruno Covas, fazia uma chamada dos presentes à reunião. A cada nome dito em voz alta, seguido do cargo, ele rabiscava algo num bloco à sua frente. “O do zoológico não vem?”, perguntou. Diante da negativa, balbuciou um “ahn”.
Eram nove da manhã e, como acontece todas as segundas-feiras, ele despachava com sua equipe. Durante duas horas e meia, dezessete chefes de departamentos, diretorias, setores e institutos lhe passaram relatos bem ou mal explicados sobre projetos, obras e burocracias envolvendo a fauna, a flora, a ocupação irregular, o tráfego e a poluição no estado de São Paulo. Sob sua chancela trabalham 7 mil servidores.
Formado em economia e direito, Covas é alto, tem um topete que prolonga o topo de sua cabeça, o nariz em forma do mapa da Itália e um sorriso que revela até os molares. O corpo rechonchudo lhe soma mais do que seus 31 anos. Até o início do ano, era o deputado estadual conhecido sobretudo como neto do ex-governador tucano Mário Covas, morto em 2001. O convite para assumir a pasta do Meio Ambiente foi uma surpresa do governador Geraldo Alckmin, de quem ele espera apoio na disputa à prefeitura. “Fui presidente da juventude do PSDB por anos e esse tema é muito ligado aos jovens”, disse. “Entendi como um desafio.”
ecentemente, seu nome tomou conta do noticiário quando ele disse, numa entrevista ao Estado de S. Paulo, que havia recusado propina de um prefeito após a liberação de uma emenda a seu favor. “Depois que assinamos o convênio, o prefeito veio perguntar com quem ele deixava os 5 mil reais. Respondi: ‘Doa para a Santa Casa, eu que não vou ficar com isso’”, falou. Dias depois, quando a oposição ameaçou abrir uma investigação sobre o caso, ele disse ter sido mal interpretado. “Eu dava um exemplo hipotético, que já dei outras vezes em palestras e discursos”, explicou.
Naquela manhã, ele vestia calça preta, camisa branca social com as mangas arregaçadas e um sapato bicudo de verniz escuro. De cabeça baixa, vidrado em suas anotações e checando as mensagens de texto no iPhone, de vez em quando indagava detalhes sobre o mosaico de Paranapiacaba, o protocolo da SMA, o parque de Jacupiranga, as capivaras da CBRN, as ZEEs, as pendências da Anama e os casos do Cerea. Quando alguém citou o PSAda RPPN, ficou claro que Covas já era fluente em siglas do “meio ambientalês”. “Quando cheguei aqui, eles falavam isso e eu também ficava com essa cara”, disse, revirando rapidamente os olhos e balançando a cabeça, como que atordoado. “Mas em três meses eu já dominava as siglas”, contou.
E como conseguiu? “É o Kumon”, revelou. Referia-se ao método criado no Japão nos anos 50, que consiste na prática exaustiva de exercícios matemáticos a partir dos 3 anos de idade. Aos 12, quando se inscreveu para uma olimpíada de matemática, Covas passou a frequentar o curso, que exige ao menos meia hora de concentração diária. Aos 15, resolvia problemas envolvendo derivadas e integradas – matérias que fazem parte do currículo universitário.
A utilidade do Kumon em sua vida é variada. Uma vez, quase foi engrupido por um gráfico em forma de pizza com fatias coloridas, que indicava as reportagens de teor negativo, positivo e neutro sobre sua gestão. Ele bateu o olho e percebeu que a soma estava errada em 1% (não se soube se para o bem ou para o mal). Em outra ocasião, ao apresentar as metas de mecanização da indústria alcooleira, fez bonito ao adivinhar um número estapafúrdio antes que o slide seguinte o revelasse. “O Kumon ajuda você a se concentrar, a ter raciocínio lógico, uma boa memória e a pensar matematicamente”, disse.
Quando assumiu o cargo, Bruno Covas valeu-se dessa técnica oriental como estratégia de sobrevivência. Ao perceber os olhares de soslaio e narizes torcidos dos funcionários contrariados por sua inexperiência no assunto e pelo pistolão político que o colocou no cargo, propôs a si mesmo o que chamou de “cursinho intensivo”. Durante uma semana, reuniu-se por até doze horas com a equipe para se tornar um deles. “Eram nomes, ideias, lugares, pessoas, propostas, eu anotava tudo e estudava em casa”, contou.
m 2004, recém-formado, foi chamado para ser vice na chapa tucana à Prefeitura de Santos. No ano seguinte, empregou-se como assessor da liderança do partido na Assembleia Legislativa para conhecer a máquina por dentro e alçar voo solo mais adiante. Mais uma vez, valeu-se do Kumon. “Decorei o regimento interno da Casa e virei uma referência para os outros deputados”, disse. “Eu era quem mais sabia daquilo ali, cheguei até a presidir sessões.” No ano seguinte, foi eleito deputado estadual e depois reeleito, em 2010, com 240 mil votos, a maior votação do estado.
Ao ser perguntado por que quer ser prefeito de São Paulo, ele é cartesiano: “Nos últimos vinte anos, o PSDB teve dois candidatos para três cargos: prefeito, governador e presidente. Ou era Serra ou Alckmin. É preciso renovação”, falou. Para ele, a crise do partido se deve a uma equação impossível de ser solucionada pelo método Kumon: “Há muitos quadros, muitas lideranças e poucos cargos”, diagnosticou. Enquanto o partido escondia seu tucano mais emplumado, ele foi um dos únicos a estampar a cara do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em seus santinhos de campanha.
Provocado sobre o assunto, Covas disse achar que o Kumon será uma ferramenta útil na campanha. “Vai me ajudar a decorar todos os números sobre São Paulo, o nome dos eleitores, da família toda, qual o problema deles”, brincou. Sua meta será promover um redespertar da metrópole. “São Paulo é triste, cinza, poderia ser mais alegre e humana”, falou. Outra prioridade será a construção de creches para crianças de até 4 anos.
Há dois meses, Covas cumpre agenda de pré-candidato. Nos fins de semana, visita rincões, favelas e comunidades de baixa renda. Além de enviar por e-mail um resumo semanal de suas atividades a uma lista de 130 mil cadastrados, ele também é um pródigo usuário do Twitter. Costuma dar detalhes de sua agenda, responder aos questionamentos de curiosos sobre a natureza e até mesmo pedir a opinião dos navegantes sobre aspectos de sua vida em família. No último aniversário da esposa, consultou-se junto a seus seguidores: “Preciso da ajuda de vocês. Terça é aniversário da Karen. O que devo comprar para ela?”
Ele contou que seu patrimônio se resume a um carro. “Não tenho nada daquela conta em Cayman”, disse, explodindo numa gargalhada. Referia-se, em tom de blague, ao caso que ficou conhecido como “Dossiê Cayman”, uma pilha de documentos falsos que comprovariam a existência de contas milionárias da cúpula tucana no exterior. “Só quem não conhecia meu avô, o Fernando Henrique, o Serra e o Serjão, pode achar que eles teriam uma conta... juntos!”, falou, esticando a risada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário