Meu exemplar chegou na noite de Natal. Por já conhecer muito do conteúdo, parte por trabalhar como editor de economia e política nos anos das privatizações, parte por acompanhar profissionalmente casos diversos de corrupção e desdobramentos de ações da Polícia Federal, a partir de São Paulo, achei que não encontraria nada de muito escandaloso no relato de Amaury.
Afinal, como meu colega na Record, mais de uma vez falamos sobre o tema e muito do que ele comprova agora com documentos já frequentou as páginas dos jornais e revistas do país, sempre de maneira fragmentada e, muitas vezes difusa, uma vez que o formato dos veículos e sua periodicidade nem sempre permitem ao repórter dar a abrangência necessária.
Mas fui capturado, logo nas primeiras páginas e, depois de uma breve interrupção ontem à noite, para a ceia e os cumprimentos, retomei a leitura hoje e, de um fôlego só, li de cabo a rabo suas 340 páginas sem me ater tanto ao papelório, já que nunca duvidei da capacidade de Amaury comprovar o que diz.
Surpreendo-me com os poucos jornalistas da grande imprensa que ousaram a tratar do tema, argumentando ser um "cozidão", ou ainda de se tratar de leitura indigesta, porque incompreensível a engenharia financeira dos crimes de lavagem de dinheiro. Do meu lado posso afirmar que tanto um quanto outro argumento são obra de despeito, quiçá de interesses contrariados. A leitura é fácil, o cruzamento de informações redundante o bastante para não nos fazer perder a linha de raciocínio e o texto em alguns momentos é delicioso.
Como, por exemplo, no capítulo em que descreve a foto do semblante de Serra empunhando o martelo segundos antes de desfechar o golpe contra o patrimônio público da Light do Rio, em maio de 1996. "Um sorriso (...) derramado para dentro". Outro ótimo e inédito relato é o da saga das Verônicas. Mas, a cereja vem mesmo no final, quando ficamos sabendo que o fogo amigo dos petistas de São Paulo quase sepultou a candidatura Dilma, em 2010.
A Privataria Tucana é, portanto, um retrato acabado do assalto que muitos políticos, sejam da direita, sejam da esquerda promovem ao patrimônio público. É uma denúncia grave contra aqueles que tratam o que é de todos os brasileiros, como se fosse algo pessoal e transferível para um desses paraísos que não deveriam existir.
Mas vai além do denuncismo, ao propor medidas simples para evitar o uso de contas do tipo CC5 e empresas offshores. Só torço, no fundo do meu coração, para que 2012 amanheça sob a determinação dos brasileiros de combater o crime do colarinho branco, custe o que custar. São os piores ladrões, porque tiram dos pobres o sustento e a dignidade.
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