domingo, 25 de dezembro de 2011

A invasão tupiniquim




Miami (EUA) - Os donos e executivos de agências de viagem estão esfregando as mãos de contentamento. Afinal, faz quase vinte anos que eles não vendiam tantas passagens e pacotes turísticos para os Estados Unidos como este ano. Segundo dados da ABAV (Associação Brasileira dos Agentes de Viagem), 2011 pode ser equiparado a 1994, após a implantação do Plano Real que estabilizou a economia e instituiu a paridade entre dólar e real. Em meados da década de 90, era comum vermos hordas de adolescentes caminhando por Miami e Orlando comandados por guias turísticos.
De lá para cá, muita coisa mudou. A primeira delas, com certeza, foi a velocidade da informação. Hoje, os compradores chegam aqui sabendo o que querem comprar, quanto vão pagar e em que lojas desejam comprar. Naquela época, tornaram-se famosos casos de pessoas que levavam para o Brasil mercadorias com defeitos, que não funcionavam e tudo sem garantia. Ou seja, eram lesados. Para tristeza nossa, os principais autores desta pilantragem eram lojistas brasileiros que montavam suas lojinhas no centro de Miami e se aproveitavam da ingenuidade dos turistas neófitos para empurrar produtos de qualidade duvidosa – muitas vezes com a cumplicidade de alguns guias turísticos, que recebiam gorjetas pelas indicações. Criou-se até mesmo a lenda de comerciantes embalavam tijolos em vez de aparelhos de vídeo cassete. E o lesado somente descobria isto quando abria o pacote...no Brasil!
A revolução tecnológica, no entanto, alterou o cenário. Atualmente, a maioria dos jovens brasileiros de classe média fala inglês e, como dissemos, mantém-se perfeitamente informada sobre os preços praticados aqui em comparação com aqueles cobrados no varejo brasileiro.
Outro fator que está contribuindo para essa invasão é a boa vontade dos consulados americanos no Brasil. Antes, tão zelosos na hora de conceder um visto, hoje estão distribuindo vistos como pães quente porque sabem que os brasileiros formam o maior contingente de turistas. E não só em quantidade como também em valores gastos nas compras e nos setores hoteleiro e de entretenimento.
Sobretudo, o que causa a grande diferença é o custo de vida. O Brasil tornou-se um país caro. Tanto que São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília figuram entre as 40 cidades mais caras do mundo. Programas que seriam bem agradáveis para os turistas do Sul e do Sudeste do país seria viajar para o Nordeste ou para a Amazônia e curtir suas praias, a floresta, seu folclore e sua culinária. No entanto, um cálculo rápido conclui que sai mais barato viajar para os Estados Unidos do que dentro do próprio país. Com a vantagem de que se está fazendo uma viagem internacional e visitando um país com toda infraestrutura e segurança.
Acho que está mais do que na hora de se fazer uma reforma tributária no Brasil – além de melhorar a infraestrutura, o que deve ocorrer com a Copa do Mundo e com os Jogos Olímpicos – para incentivar o turismo interno e, mais do que isto, atrair os turistas internacionais. O momento é propício porque o Brasil está sendo (bem) comentado e, de fato, tem muitas atrações para os visitantes. Claro que o parque hoteleiro também precisa ser aumentado e aprimorado, mas isto vem naturalmente com a iniciativa privada. Aliás, a construção e a reforma de alguns aeroportos brasileiros serão feitas com recursos de empresas interessadas em lucrar com estes empreendimentos.
Até mesmo o governo do PT já percebeu que algumas atividades cabem melhor no figurino da iniciativa privada do que na esfera pública. Governo tem de prover aos cidadãos educação, saúde, segurança pública. Ironicamente são três áreas onde estamos ruins. A educação é de baixa qualidade e insuficiente, porque não contempla recursos adequados para o ensino superior e falha na formação das crianças; a saúde pública é simplesmente um caos, com falta de hospitais, clínicas e o atendimento médico sendo feito graças à abnegação dos profissionais da Saúde, e a segurança pública está sempre com carência de equipamentos e armamentos para dar condições aos policiais de combater a criminalidade. Resultado: os mais abastados contratam servi­ços particulares para suprir a incompetência do setor público, agravando ainda mais o fosso de desigualdade entre os brasileiros.
Apesar de tudo, temos esperança de que tudo vai melhorar. Aliás, como diz o ditado, de fé também se vive. Por isto, desejo aos nossos leitores Boas Festas e um 2012 cheio de realizações. E até o ano que vem!

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