sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

PSDB converte SP em palco de sua decadência


Sendo o ego mais agigantado, José Serra é o mais tucano dos líderes tucanos que se movem em São Paulo. E o mais divertido. O egocentrismo tucano não implica um fascínio exclusivo com o próprio umbigo. Ao contrário. É tão expansivo que requer um espelho do tamanho do PSDB. Emolduradas pela paisagem tucana, as caras e as poses refletidas dispensam palavras.
Em plena fase de construção, a melhor pantomima tucana do momento não precisa do exagero verbal para se completar. Basta enfatizar esta ou aquela característica até o limite do ridículo. Por exemplo: a compulsão tucana pelas decisões tomadas em conciliábulo é apenas o lado mais simpático do ego de bico grande. O lado menos pitoresco são as carcaças que ficam pelo caminho.
No PSDB, nunca faltará ao ego indomável um palco sobre o qual exercitar suas idiossincrasias. Generoso ao extremo, o partido jamais sonega ao ego o holofote que ilumina suas angústias. Habituou-se de tal modo ao teatro que se dedica a ornar o espetáculo visual de sua decadência com as melhores cenas.
Serra poderia ter assumido a condição de candidato a prefeito de São Paulo desde o início. Nenhum tucano ousaria eriçar as plumas. Mas Serra não seria Serra se dispensasse o mistério da pseudo-hesitação. Ameaça entrar em cena quando já existem quatro almas no seu caminho. Por sorte, o ‘ego’ vem sempre acompanhado do ‘id’, que não se tortura com os dramas alheios.
O ‘id’ cuida de aplainar o terreno. Ao ‘ego’ interessa usufruir do cenário dócil, a seu serviço. É essencial que o jogo de luzes realce o seu perfil de solitária fotogenia. Enxotado por outros egos da cena nacional, Serra corta o palco montado pelo PSDB de São Paulo com a inocente perversidade de um filiado mimado. Sabe que, na peça paulistana, não há outro Serra.
A nove dias das supostas prévias que mobilizam quatro tucanos –a essa altura talvez apenas dois— o ego reuniu-se com Geraldo Alckmin, espécie de diretor de cena. Avisou que é mesmo grande a chance de subir ao ringue municipal de 2012. Não abandonou, porém, a pose de dúvida.
Num esforço para injetar dramaticidade na cena, Alckmin fixou um prazo para o término da comédia. Do final de semana, disse ele, não passa. Como assim? Acha que Serra vestirá o figurino de candidato até domingo? O diretor fez pose de impaciente: “Espero que sim”.
Quem ouve pensa que a democracia interna será exercida caso Serra não dê uma resposta nos próximos dois dias. Bobagem. No PSDB, as decisões mais importantes são contadas numa sucessão de poses. A pose é o ofício dos bons egos. Quanto mais, melhor. E se vierem as prévias? Se forem realizadas, vai aumentar o número de carcaças. A atmosfera dos bastidores talvez fique irrespirável. Mas a pilha de esqueletos vai melhorar o teatro.

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