Ana Cláudia Barros
O líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias, minimizou as denúncias apresentadas no livro A Privataria Tucana, de autoria do jornalista Amaury Ribeiro Jr., lançado na última sexta-feira (9). Em entrevista a Terra Magazine, o parlamentar, que não costuma se negar a falar sobre casos de corrupção, contou que não leu o livro e chamou os fatos relatados por Ribeiro de "café requentado".
Por meio de documentos, o jornalista afirma ter comprovado desvios de recursos e pagamentos de propinas durante o processo de privatizações no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. A obra descortina ainda, segundo o autor, um esquema de lavagem de dinheiro com conexões em paraísos fiscais, unindo membros do PSDB, como o ex-ministro da Saúde e ex-governador paulista José Serra, ao banqueiro Daniel Dantas. Pessoas vinculadas ao tucano, entre elas, sua filha, Verônica Serra, também são citadas.
O livro já teve a primeira edição com 15 mil exemplares esgotada, conforme Luiz Fernando Emediato, da Geração Editorial, que prepara nova tiragem com o mesmo número de cópias.
- Essas denúncias são da campanha (presidencial). Pelo menos, eu não vi nenhuma movimentação no PSDB em relação a elas. A primeira jornalista que me indaga a respeito disso é você. Não houve qualquer interesse, e tem vários dias que isso está na internet, nas redes sociais, e ninguém se interessou pela matéria. Exatamente porque é café requentado. Isso foi discutido na campanha e o propósito era eleitoreiro. Haviam anunciado a divulgação do livro na campanha, depois se adiou - diz Alvaro Dias.
A Privataria Tucana é tema de capa da revista Carta Capital desta semana. O jornalista Amaury Ribeiro Jr. também foi entrevistado por Terra Magazine, que procurou ainda Serra e FHC para repercutir as denúncias.
Indagado se era a favor da apuração dos fatos divulgados no livro, o parlamentar respondeu:
- Se desejarem mesmo providências sobre estes fatos aludidos, que aceitem a CPI da corrupção no Congresso. E podem acrescentar esse item. O que não se deve é voltar ao passado para blindar o presente.
Sobre a repercussão do livro entre os integrantes do PSDB, o senador informou que o tema não foi discutido com os colegas de partido. "Ninguém ventilou o assunto comigo. Das conversas que tive com os companheiros neste final de semana por telefone, ninguém ventilou o assunto".
Confira a entrevista.
Terra Magazine - O que o senhor achou das denúncias apresentadas no livro A Privataria Tucana, de autoria do jornalista Amaury Ribeiro Jr.?
Alvaro Dias - Eu não li o livro. O que sei é da origem. Este processo todo começou na campanha eleitoral. O objetivo era a campanha. Não conheço o livro. Sei que ele tinha esse propósito.
Alvaro Dias - Eu não li o livro. O que sei é da origem. Este processo todo começou na campanha eleitoral. O objetivo era a campanha. Não conheço o livro. Sei que ele tinha esse propósito.
Que propósito exatamente? Tumultuar a campanha eleitoral em prejuízo do candidato de oposição (José Serra). Esse era o objetivo. De outro lado, se houve irregularidades, ilícitos praticados naquele período que antecede a doze anos, obviamente, houve prevaricação de quem assumiu o poder, de quem assumiu o governo e não tomou providências. Por isso é muito estranho que, depois de tanto tempo, esses fatos sejam colocados como prioridade para o debate. Quando nós temos no Congresso um pedido de CPI da corrupção para investigar os grandes escândalos do momento, voltam para duas décadas atrás.
O que o senhor está dizendo então é que há uma tentativa de fazer uma cortina de fumaça?Se desejarem mesmo providências sobre estes fatos aludidos, que aceitem a CPI da corrupção no Congresso. E podem acrescentar esse item. O que não se deve é voltar no passado para blindar o presente.
Sobre a denúncia de que havia um esquema de desvios de recursos das privatizações durante o governo FHC. Qual é a avaliação do senhor?Eu não acho nada porque isso não foi denunciado à época. Esse é um fato que não foi denunciado no momento adequado.
E o senhor acha que pelo fato de não ter sido denunciado no momento adequado não é pertinente que se investigue? É essa sua opinião?A minha avaliação é a seguinte: se querem apurar, aprovem a CPI da corrupção no Congresso, que tem vários itens, e acrescentem esse. Os itens do momento, da atualidade, os maiores escândalos da história do Brasil a partir do mensalão. Nunca houve tanta corrupção no Brasil como a partir dos últimos nove anos. E ficam buscando lá atrás fatos que eu, pessoalmente, teria dificuldade de apreciar, porque estamos distantes deles. Sem as condições adequadas para fazer uma avaliação.
Me parece que o livro não foi divulgado durante a campanha eleitoral (corrida presidencial em 2010), certamente, porque poderia produzir uma reação inversa. Aguardou-se o momento. Como hoje, há um festival de denúncias contra os governantes atuais, aí, busca-se, no passado, uma espécie de nuvem de fumaça para acobertar fatos presentes, fatos da atualidade, que são gravíssimos.
Me parece que o livro não foi divulgado durante a campanha eleitoral (corrida presidencial em 2010), certamente, porque poderia produzir uma reação inversa. Aguardou-se o momento. Como hoje, há um festival de denúncias contra os governantes atuais, aí, busca-se, no passado, uma espécie de nuvem de fumaça para acobertar fatos presentes, fatos da atualidade, que são gravíssimos.
Mas o senhor é ou não a favor da investigação dos fatos apresentados no livro?Eu nunca fui contra a investigação de fato algum. Agora, o que não pode haver é irresponsabilidade. Se desejam investigar, investiguem. Existem os mecanismos adequados para isso. Se querem investigar na área política, obviamente, tem que incluir no elenco de itens já postos na CPI da corrupção, que está à disposição de senadores e de deputados no Congresso para a assinatura.
E sobre o "fogo amigo" entre Serra e Aécio (o livro relata que Serra mandou espionar Aécio)? Como o senhor vê isso?Isso tudo é requentado. Esses fatos foram da campanha eleitoral. Por isso que a mídia nacional não deu importância a esse livro. Não houve nenhum interesse da grande imprensa do País sobre esse fato, exatamente porque é um fato superado que ocorreu durante a campanha eleitoral. Não me cabe fazer esse tipo de apreciação. Não tenho conhecimento disso. Isso à época foi repelido pelas partes. Então apenas estão requentando o fato.
O jornalista Amaury Ribeiro Jr. alega que as denúncias estão fundamentadas em documentos recolhidos em fontes públicas. O senhor tem interesse em olhar esses documentos. Aliás, o senhor pretende ler o livro, senador?Se houver tempo... Eu tenho coisa interessante para ler, mas se houver possibilidade, vou ler. Principalmente, conhecendo a origem e as razões da obra, certamente, o interesse diminui. Mas vamos ler, sim.
Como essas denúncias repercutiram no PSDB?Essas denúncias são da campanha (presidencial). Pelo menos, eu não vi nenhuma movimentação no PSDB em relação a elas. A primeira jornalista que me indaga a respeito disso é você. Não houve qualquer interesse, e tem vários dias que isso está na internet, nas redes sociais, e ninguém se interessou pela matéria. Exatamente porque é café requentado. Isso foi discutido na campanha e o propósito era eleitoreiro. Haviam anunciado a divulgação do livro na campanha, depois se adiou.
Mas houve preocupação por parte do PSDB? Preocupação em relação à imagem do partido?Não conversei com ninguém a respeito. Ninguém ventilou o assunto comigo. Das conversas que tive com os companheiros neste final de semana por telefone, ninguém ventilou o assunto.
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