segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Profissão prefeito



Administrador do município de Paulista, em Pernambuco, Yves Ribeiro está no sexto mandato, o quinto consecutivo. Em 2012, completa 20 anos no cargo graças à prática de concorrer à prefeitura por diferentes cidades da mesma região metropolitana

Pedro Marcondes de Moura
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ESCOLADO
"Cursei meu ensino básico em Itapissuma; o
fundamental, em Igarassu; e o superior, em Paulista"
, diz Yves
Ao participar de um seminário em Portugal, este ano, o prefeito da cidade pernambucana de Paulista, Yves Ribeiro de Albuquerque (PSB), se surpreendeu com um questionamento realizado por parte do público: “Como você está há tanto tempo no mesmo cargo?” A indagação daqueles lusitanos, encarada por ele com estranhamento, parece bem procedente em terras tupiniquins. Ex-pescador e operário, Yves Ribeiro, 63 anos, ocupa uma posição de causar inveja a muitos oligarcas. Está no sexto mandato como prefeito, o quinto consecutivo. Foram três cidades situadas no mesmo Estado e na mesma região metropolitana. Em Itapissuma, venceu os pleitos em 1983 e 1992. Como ainda não havia reeleição, migrou para a vizinha Igarassu, que comandou entre 1997 e 2004. Depois, passou a administrar, em 2005, Paulista, onde exerce seu segundo mandato. “Tem uns quatro ou cinco municípios da região do litoral norte de Pernambuco em que eu ganharia as eleições”, diz, prestes a completar 20 anos no poder. 

Apesar de repudiar o título, Yves Ribeiro figura como expoente dos chamados “prefeitos itinerantes” ou “profissionais”. Homens públicos que, com o intuito de se preservar no cargo de gestor municipal, recorrem às urnas vizinhas. “Sempre fui envolvido com as cidades que governei”, alega. Para justificar ainda mais o seu feito, o administrador de Paulista menciona uma passagem da Carta Magna: “Todo o poder emana do povo.” Embora não existam dados oficiais sobre o número de “prefeitos itinerantes” no País, levantamento de ISTOÉ detectou a existência desse expediente em quase todos os Estados brasileiros e até em grandes cidades. O atual administrador da capital catarinense, Dário Berger (PMDB), por exemplo, foi eleito e reeleito em São José e, ao final de seu segundo mandato, em 2003, mudou o domicílio eleitoral para Florianópolis, onde conquistou os pleitos de 2004 e 2008. 

A prática, na opinião do advogado Fernando Molino, do Instituto de Direito Político e Eleitoral, apesar de ser legal, consiste em uma maneira de burlar a Constituição, que permite apenas uma reeleição em cargos executivos. “Isso deve ser corrigido. Prejudica a vida política e administrativa dos municípios”, opina o cientista político Octaciano Nogueira, professor da Universidade de Brasília (UnB). Yves Ribeiro discorda: “Qual empresa vê um bom gerente e não quer contratar? Com os eleitores acontece o mesmo”, explica. 

Se depender do Congresso, porém, a caminhada dos prefeitos itinerantes pode estar com os dias contados. Já foi aprovado no Senado e tramita na Câmara um projeto de lei que veda a prática. Um dos autores da proposta é o presidente do Senado, por dois mandatos consecutivos, José Sarney, que já governou o Maranhão e agora ocupa o cargo de senador pelo Amapá. A mudança, porém, ainda que sancionada, não afetará a vida do pernambucano Yves Ribeiro. Mesmo dizendo ter em mãos uma pesquisa em que lidera as eleições numa quarta cidade da região, o socialista resolveu abandonar a sanha por prefeituras. “Estou cansado. Já fiz muita coisa”, diz. “Na escola da política, cursei meu ensino básico em Itapissuma; o fundamental, em Igarassu; e o superior, em Paulista”, brinca ele. Formado com louvor na matéria da esperteza política, Yves Ribeiro pretende se eleger deputado estadual em 2014. 
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