quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Gravação revela que PMs planejaram vandalismo



Gravação revela que PMs planejaram vandalismo Foto: Divulgação

ÁUDIO DIVULGADO PELO JORNAL NACIONAL COMPLICA A SITUAÇÃO DE MARCOS PRISCO, LÍDER DO MOVIMENTO NA BAHIA, QUE TEM PRISÃO DECRETADA PELA JUSTIÇA; GRAVAÇÕES PRATICAMENTE INVIABILIZAM A CONCESSÃO DE ANISTIA AOS POLICIAIS; MAIS CEDO, ELE FALOU AO 247

08 de Fevereiro de 2012 às 21:44
Bahia247 - O cenário da greve dos Policiais Militares da Bahia promete ficar mais quente do que nunca. O ingrediente que colocou mais pimenta no caldeirão veio em uma matéria do Jornal Nacional que revelou conversas gravadas entre os chefes dos PMS grevistas na Bahia e mostram acertos para realização de ações de vandalismo na cidade. As gravações mostram ainda as articulações para que a paralisação se estenda ao Rio de Janeiro, a São Paulo e outros estados com o objetivo de inviabilizar a realização do Carnaval nas cidades e pressionar o governo federal a aprovar o segundo turno de votação da PEC 300, emenda que garantiria um piso salarial único para bombeiros e policiais de todo o Brasil.
No primeiro trecho das gravações, Marco Prisco, líder do movimento grevista na Bahia combina uma ação de vandalismo com um de seus liderados. Leia abaixo um dos trechos de conversa:
- Prisco: Alô, oi. Desce toda a tropa pra cá meu amigo. Caesg e você. Desce todo mundo para Salvador, meu irmão... Tou lhe pedindo pelo Amor de Deus, desce todo mundo para cá...
- David Salomão: Agora?
- Prisco: Agora, agora. Embarque...
- David Salomão: Eu vou queimar viatura... Eu vou queimar duas carretas agora na Rio/Bahia que não vai dar tempo...
- Prisco: fecha a BR aí meu irmão. Fecha a BR.
Prisco, concedeu uma entrevista na tarde desta quarta-feira (8) ao Bahia 247. Na ocasião ele negou a existência de vândalos entre os grevistas e negou que tivesse a intenção de prejudicar o Carnaval.
Projeto é espalhar o movimento grevista pelo país
Em uma outra gravação, uma conversa trata da expansão do movimento grevista pelo país e da intenção de segurar o fim da greve na Bahia enquanto o movimento grevista não começa no Rio de Janeiro. "Pergunta a pessoa importantíssima que está aí qual a possibilidade de nós passarmos em segundo turno na semana que vem?", questiona o cabo carioca Benevenuto Daciolo, falando sobre uma possível votação da PEC 300. Nas gravações fica claro que o objetivo do movimento é prejudicar o carnaval nas maiores cidades do Brasil.
Nove dias e 135 mortos
A greve dos Policiais Militares na Bahia completou nove dias nesta quarta-feira (8) e já possibilitou a morte de mais de 135 pessoas na Região Metropolitana de Salvador. O governo estadual se comprometeu a pagar as duas principais exigências dos grevistas, mas o movimento persiste com a justificativa de que a greve só chega ao fim quando for concedida anistia administrativa e criminal a todos os PMs envolvidos, Prisco aí incluído. E aí que começa o impasse, pois o governo estadual não aceita esta condição.
Leia entrevista concedida por Prisco mais cedo:
Jaciara Santos _Bahia 247 - Com prisão preventiva decretada e atualmente o foragido mais famoso do Estado da Bahia, o ex-soldado Marcos Prisco Caldas Machado, 43 anos, não parece ser aquele “inimigo público nº 1”, que se vê em filmes de bandidos e mocinhos. A fala rápida e a conversa entrecortada por telefonemas dão o tom do momento tenso que vive o homem que parou a Polícia Militar do Estado da Bahia, como líder de um movimento que alcançou repercussão internacional. Por telefone e entre ligações cortadas por mais de uma vez (o sinal da telefonia móvel caía a todo momento), de dentro do prédio da Assembleia Legislativa, o presidente da Associação dos Praças Policiais e Bombeiros Militares da Bahia (Aspra), fala nesta entrevista do momento que está vivendo e exime a categoria de responsabilidade pelos atos de vandalismo que a cidade vive. E insiste: só quer negociar.
247 - Oito dias após o início da paralisação, como você analisa o cenário atual? O governador diz ter chegado ao limite do que poderia oferecer e aí?...
Prisco – A gente quer continuar negociando. Para a categoria, as negociações não se esgotaram. Agora tem que deixar claro uma coisa: está provado que os métodos usados, a repressão, a força não deram resultado. Pelo contrário: quanto mais aumentou a pressão só fez crescer o movimento. Hoje a gente avalia que a adesão é de 100% na capital e de quase isso no interior.
247 - Bom, não é essa a avaliação do governo, mas o que eu quero saber é: como resolver o impasse. Quem vai desfazer o nó?
Prisco – Está nas mãos do governo, que parece não querer resolver a situação.
247-Não é essa a impressão que o governo tem passado para a população. Desde que o governador voltou de viagem, tem falado o tempo todo em negociação...
Prisco – Como que o governo quer negociar se a mesa de negociações é feita com outras associações deixando a Aspra de fora?
247- Inclusive, desde ontem, uma publicidade oficial está mostrando a proposta do governo em relação ao pagamento da Gratificação de Atividade Policial -GAP-4 (novembro 2012) e 5 (a partir de 2014).
Prisco – 2015!
247- Está sendo falado a partir de 2014...
Prisco – Não. É abril de 2015 e a categoria já deixou claro que não aceita.
247- Pois é. Essa posição não pode ser interpretada como intransigência?
Prisco – Não. Porque a categoria só quer o cumprimento da lei (a Lei 7.145/1997, que instituiu a GAP). As GAPs 4 e 5 já deveriam ter sido pagas até o ano 2000, então não dá para esperar mais tanto tempo.
247 - E com relação à anistia? Aqui fora, já está circulando a informação de que você estaria disposto a abrir mão da anistia...
Prisco – Nada! Eu acho que esse é um ponto que não está sendo bem compreendido pelas pessoas. Uma coisa é a anistia para os policiais que estão participando do movimento. O que nós defendemos é que quem não praticou vandalismo, não cometeu crime, seja beneficiado pela Lei da Anistia (Lei Nº 12.191/2010, sancionada pelo então presidente Lula e que concede anistia a policiais militares que participam de greves entre 1997 e 2010). Quem cometeu crime tem que ser julgado e penalizado por seu crime, não defendo quem comete crimes. Agora, quem não cometeu, não pode ser tratado como bandido, com prisão em presídio de segurança máxima...
247- Mas o governo já flexibilizou esse ponto. Já se fala em recolhimento a prisões militares aqui mesmo no Estado...
Prisco - Mas esse é outro equívoco. O Executivo não pode interferir em uma decisão do Judiciário. Se a Justiça determinou a prisão em unidades de segurança máxima, só a Justiça pode alterar essa decisão.
247- E quanto ao seu caso? A sua luta é para reverter a exclusão...
Prisco - Isso! São duas situações diferentes. A anistia para os grevistas e a minha readmissão em cumprimento a decisões da Justiça. Já existem duas decisões do Pleno do Tribunal de Justiça da Bahia favoráveis ao meu pleito, que são ignoradas pelo governo da Bahia.
247 - E tem a lei sancionada pelo presidente Lula...
Prisco – São duas leis: a de Lula (a Lei 12.191/2010) e a de Dilma (a Lei nº 12.505/2011, que concede anistia aos policiais e bombeiros militares do Rio de Janeiro, de outros 12 estados e do Distrito Federal, punidos por participar de movimentos reivindicatório). Mas, nada, nada, esse governo parece respeitar.
247 - Então a questão das GAPs 4 e 5, a anistia aos grevistas e a sua reintegração são pontos inegociáveis?
Prisco – Não existem pontos inegociáveis. Estamos aguardando que o governo se disponha a negociar.
247 - É verdade mesmo que o PT e alguns partidos que hoje integram a base do governo Wagner teriam financiado a greve de 2001?
Prisco – Isso não é nenhum segredo. É só procurar o noticiário da época, tem vídeos, textos, tudo.
247 - Você diria que existe uma questão pessoal contra você para que não efetivem sua reintegração?
Prisco – (silêncio)
247 - Teria alguma relação com o fato de você ter gravado um depoimento contra o governo Wagner na campanha de Geddel?
Prisco – Não sei, pode ser. Mas eu não inventei nada.
247 - O que mais você teria a dizer à sociedade que tem vivido dias de angústia, de terror? Eu mesma, não vou negar, ando apavorada...
Prisco – O que tenho a dizer ao povo baiano é que nossa luta é uma luta legítima e que não concordamos com atos de violência, nem com o vandalismo que se alastrou. Também não deixa de ser uma violência ver o Exército cercando a Assembleia Legislativa, ver companheiros recebendo balas de borracha...
247 - Só pra encerrar: vocês já avaliaram o tamanho do estrago na imagem da tropa se o Carnaval 2012 for prejudicado?
Prisco – Se dependesse de nós, a greve já teria sido suspensa há muito tempo. O movimento foi deflagrado no dia 31 de janeiro e hoje já estamos no dia 8. São oito dias esperando uma solução e sempre abertos à negociação. Não é nosso interesse prejudicar o Carnaval.

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