quinta-feira, 15 de março de 2012

Presidente Dilma dá alma gaúcha ao seu governo



Presidente Dilma dá alma gaúcha ao seu governoFoto: Edição/247

ALÉM DOS SETE NOMES DO PRIMEIRO ESCALÃO QUE JÁ FORMAM A “REPÚBLICA DO CHIMARRÃO”, PRESIDENTE ASSUME CARACTERÍSTICAS QUE FORAM DE GETÚLIO VARGAS, JOÃO GOULART E ERNESTO GEISEL; ALÉM DISSO, TEM A ENERGIA DO EX-GOVERNADOR LEONEL BRIZOLA; ELA FAZ JUS AO JEITO PERSONALISTA DE ADMINISTRAR NASCIDO NOS PAMPAS

15 de Março de 2012 às 17:01
247 – Seis ex-presidentes da República nasceram no Rio Grande do Sul, cumprindo mandatos diretos e indiretos que somaram 36 anos e meio de poder – o maior período de ocupação da Presidência por representantes de um mesmo Estado. A presidente Dilma Rousseff não poderá acrescentar seu nome e seu tempo na chefia da administração federal a essa lista. Ela, afinal, nasceu em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais. Na prática, porém, é como se fosse mais uma representante dos pampas no principal cargo da República. Dilma surgiu e se desenvolveu politicamente no Rio Grande do Sul, onde militou na luta armada, cerrou fileiras no partido de Leonel Brizola e, mais tarde, assinou ficha de filiação no PT. Foi ali que tornou-se um quadro da administração pública e é dali que está buscando colaboradores que já integram postos-chave de seu governo.
No estilo sem meneios de governar, no gosto pela objetividade que, às vezes, pode ser rude, e até na provocação de tensões em nome de atingir seus objetivos, Dilma apresenta características que apontam diretamente para traços da personalidade de seus antecessores gaúchos.
De Getúlio Vargas (1882-1954) vem o gosto da presidente pelo trabalhismo, no qual militou dentro do PDT, o verdadeiro sucessor pós-anistia do PTB getulista. Também se viu em Getúlio, acentuadamente, o perfil nacionalista que se manifesta naturalmente em Dilma. As empresas estatais criadas nas duas passagens dele pela Presidência, por outro lado, igualmente são intocáveis para a atual mandatária, crítica ferrenha das privatizações executadas nos governos do carioca de berço político paulista Fernando Henrique Cardoso.
É possível reconhecer, na determinação com que encara temas espinhosos, como o da Comissão da Verdade, por exemplo, o mesmo tipo de fibra e coragem, em Dilma, verificado antes no presidente João Goulart (1919-1976). Empenhado em fazer as chamadas reformas de base, Jango, primeiro fruto da estirpe trabalhista de Vargas, foi deposto pelos militares junto com suas ideias. Não se conhece, dele, qualquer tipo de autocrítica quanto a seus planos para o Brasil. Ao contrário. O ex-presidente morreu no exílio como adversário jurado do regime militar, contra o qual pelejou, ao seu modo, até o fim. Como já se sabe, Dilma arriscou sua própria vida nas ações armadas das quais participou contra os governos militares. Hoje, ela igualmente não abre mão de suas ideias facilmente, fazendo o tipo que até dá um boi para não entrar numa richa, mas que oferece uma boiada para não sair da disputa uma vez iniciada.
A semelhança com o general Ernesto Geisel (1907-1996), transparece no pouco gosto pela política partidária. Especialmente, no entanto, o traço de união com um dos mais emblemáticos representantes da ditadura está, outra vez, no nacionalismo e, sem dúvida, na aposta em grandes obras. Geisel tinha obsessão pelo planejamento do governo e o procurava materializar o sonho do Brasil Grande, pautado por obras de impacto. Ele próprio preferia ser visto muito mais como um gestor do que como um político. Com o carinho que demonstra pelo PAC – Plano de Aceleração do Crescimento --, o conjunto de obras de infraestrutura que formam a espinha dorsal das realizações do seu governo, a presidente Dilma também persegue, noutro contexto, a meta do Brasil potência. Ela pode rejeitar a comparação, mas vestígios do DNA geiseliano estão presentes, agora, até mesmo no dirigismo da economia, quando Dilma e sua politica econômica escolhem os setores econômicos que merecem e os que não merecem privilégios fiscais. A atenção que, como Geisel, ela dedica à Petrobras, é outra pontinha de unidade ideológica com o “Alemão”.
É, no entanto, com um político gaúcho que jamais chegou à Presidência, mas que governou dois Estados – o próprio Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro --, que Dilma mais se espelha. Ela foi correligionária de Leonel Brizola (1922-2004), o caudilho que agia pela via democrática. Como seu antigo chefe político, a presidente não parece ter medo de provocar tensões, carregar bandeiras polêmicas e valer-se da legalidade para impor suas vontades. Brizola julgava-se um político empírico. Dilma é uma técnica bem formada, mas como ele também toma decisões pela impressão pessoal que tem sobre algum problema, ultrapassando os pareceres técnicos. Ela poderia, neste sentido, ter vacilado em relação à construção da usina de Belo Monte, na região Norte. Convencida, porém, de que a usina irá proporcionar crescimento à região, ela assumiu uma polêmica internacional sem receio de eventuais desgastes em sua imagem. Tal qual Brizola, Dilma cultiva um certo desprezo pelas estruturas partidárias, optando por governar com equipes de sua confiança. Ela, à medida do politicamente possível, não faz questão de agradar chefes de partidos, dando seguidos recados de que o governo, ao contrário do que eles possam pensar, é dela, e não deles. A presidente gosta de manter os militares subordinados à sua estreita orientação, proporcionando o desenvolvimento de estruturas potencialmente explosivas, como a Comissão da Verdade, sem dar ouvidos a ameaças e manifestos feitos na reserva em nome da ativa. Igualmente apoia-se em aliados de ocasião, sem ligar para a coloração ideológica. Brizola foi amigo de seu adversário Collor de Mello, enquanto Dilma escuta conselhos do tucano Fernando Henrique. A presidente, sem dúvida, ficaria muito bem com um lenço vermelho atado no pescoço.

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