quinta-feira, 15 de março de 2012

Dilma testa limites da base parlamentar (Editorial)



O Globo
Assim como foi ungida e eleita pela força de Lula, Dilma Rousseff recebeu do patrono uma equipe de governo montada. Por uma dessas trapaças do destino, escândalos começaram a abrir espaço à presidente para tentar montar uma equipe própria logo nas primeiras semanas de Planalto.
O primeiro a sair do circuito, mal iniciado o governo, foi Antonio Palocci, colocado na Casa Civil com a evidente função de manter pontes com o passado. Dilma logo preencheu o vazio como quis (Gleice Roffmann no lugar de Palocci, e, num troca-troca com Luiz Sérgio, este deixou a coordenação política com Ideli Salvatti e foi para o cargo dela na Pesca).
O desmonte do Ministério lulopetista prosseguiu à medida que surgiam casos de desvio de verbas públicas por meio de convênio com ONGs fajutas, malversação de emendas parlamentares, sobrepreços em obras de infraestrutura, entre outros golpes.
Mas, no preenchimento dos cargos, ficou evidente a força dos compromissos herdados de Lula. O ministro apanhado em delito saiu, porém o partido dele continuou dono do pedaço.
A destituição de Romero Jucá (PMDB-RR) da liderança do governo no Senado é mais uma tentativa de Dilma de ganhar alguma independência. O afastamento de Jucá é positivo, por afirmar a autoridade de uma presidente refém de acertos lastreados no fisiologismo. E veio depois da provocação feita com a rejeição no Senado da recondução de Bernardo Figueiredo, indicado por ela, à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
A dimensão do ato extrapola o senador de Roraima e atinge, na verdade, o grupo que controla a Casa: os peemedebistas José Sarney (AP) e Renan Calheiros (AL). O troco presidencial teve requintes, porque foi nomeado novo líder Eduardo Braga (PMDB-AM), crítico do esquema de poder existente no Senado.
A resposta veio rapidamente: Romero Jucá, o camaleônico parlamentar sempre à disposição do poderoso do momento, ganhou a relatoria da comissão mista do Orçamento de 2013, cargo estratégico. O cerco a Dilma se mantém. Dilma aproveitou e, na Câmara, substituiu o petista Cândido Vaccarezza (SP), na liderança do governo na Casa, por outro petista paulista, Arlindo Chinaglia. Zerou a pedra das colisões entre Vaccarezza e Ideli Salvatti.
A dúvida é sobre a estratégia de Dilma para lutar esta boa batalha.
Sem considerar o contexto histórico, cabe lembrar que Stalin, ao ser aconselhado a não perseguir os católicos, perguntou: “Quantas divisões militares tem o Papa?” E quantas divisões, no campo político de batalha, Dilma tem?
Conspira contra sua correta intenção de fazer um governo próprio, com sua marca, o fato de ocupar a cobertura de um edifício construído por uma engenharia política fisiológica, e que só funciona na base do toma lá dá cá.
Tanto quanto isso, o cenário econômico é muito diferente daquele que permitiu o patrono de Dilma administrar sem maiores problemas, não uma equipe, mas uma confederação de grupos e aparelhos, sem comungar um projeto comum a não ser o do poder pelo poder e o de vantagens pecuniárias. Sem contar a facilidade de Lula para fazer política, dom inexistente em Dilma.
Começa a se configurar um cenário tensionado em que a presidente precisa cada vez mais executar um projeto para enfrentar os problemas econômicos, mas sua base parlamentar tem outras preocupações, as mesmas cultivadas durante oito anos.

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