segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Dirceu quer combater a corrupção



Dirceu quer combater a corrupçãoFoto: Karol Azevedo/Bahia247

EM ENTREVISTA AO BAHIA 247, EX-MINISTRO CHEFE DA CASA CIVIL DO GOVERNO LULA QUESTIONA PODER DA MÍDIA, DEFENDE SUA REGULAÇÃO E QUER TER DOIS TERÇOS DAS PREFEITURAS BRASILEIRAS; LEIA A ÍNTEGRA

07 de Novembro de 2011 às 11:59
Por Elieser Cesar_Bahia 247
Todo-poderoso ministro-chefe da Casa Civil no primeiro governo Lula e dirigente nacional do PT, José Dirceu desembarcou na Bahia, no meio da manhã do último sábado, com uma mancha. Calma! Não estou falando da nódoa simbólica de quem carrega o peso de ter sido acusado de ser o mentor do mensalão – suposto pagamento de proprina aos partidos da base aliada no primeiro mandato do Presidente Lula –, acusação que lhe custou a cassação do mandato, mas uma mancha do vinho que, no avião, de Aracaju para Salvador, a comissária de bordo deixou cair em sua camisa. "Foi quase uma taça toda. Aproveitei para beber o resto e trocar de camisa", contou, arrancando risos da plateia, ao participar, na capital baiana, do encontro da executiva estadual do PT, que discutiu, no sábado (5), as estratégias e as alianças do partido para as eleições de 2012 no Estado. Vai ver que, talvez por causa do pequeno incidente, Dirceu disse que, nas férias que pasará na Bahia, vai tomar caipirinha e muito sol.
Em Salvador, o ex-ministro lançou um "livro pra chamar de seu": "Tempos de Planície", coletânea de artigos publicados em seu blog, sobre a política, a realidade brasileira e as aspirações da juventude. Ao final da reunião, na qual dividiu as atenções com o governador Jaques Wagner, Zé Dirceu falou com exclusividade ao Bahia247. Confiram, abaixo, o resultado.
Político desde pequenininho e saudades da infância
Bons tempos aqueles que o então ministro-chefe da casa Civil, José Dirceu, era o o todo-poderoso da Esplanalda dos Ministérios, em Brasília, operava como uma espécie de Comissário para Assuntos Políticos e só mandava menos do que Presidente Lula. Mas o escândalo do mensalão o desalojou do tapete vermelho do Planalto e o atirou nos batisdores mais rasteiros da planície, acidente geográfico que empresta o nome ao novo livro de Zé Dirceu, como é chamado pelos correligionários mais próximos do PT:
"O melhor tempo é o da infância, no qual a gente pode brincar à vontade, sem preocupação nenhuma. Mas, até na infância, eu já fazia política com os coleguinhas [risos].
O Brasil mudou
A verdade é que o Brasil mudou e é reconhecido mundialmente. Na Planíce retomei minha vida de advogado e escrevi os artigos do livro. São artigos pequenos, de três mil caracteres, três ou quatro artigos sobre o mesmo tema, refletindo o Brasil, fazendo um balanço do governo Lula, do qual tive orgulho de participar. É um livro dirigido ao Brasil, dirigido, sobretudo, à juventude, em que procuro discutir e debater políticas para os jovens, a questão tributária, a produção do biodiesel, a segurança pública e a violência, a geração de emprego e renda, o mercado externo, a importância do programa Bolsa Família para a grande mobilidade social que se registrou nos oito anos do governo Lula. O livro está me dando a oportunidade de percorrer o Brasil, conversando e dialogando com diversas correntes de pensamento e, principalmente, com a juventude.
"A reforma política é uma necessidade"
O ex-ministro e agora escritor defende a necessidade de se equacionar, sem demora, dois assuntos que considera prioritários na agenda política brasileira, a reforma política e a regulação da mídia: "A reforma política é uma necesidade até para se combater a corrupção, o abuso do poder econômico e o caixa 2 na campanha eleitoral. Precisamos discutir o financiamento público das campanhas eleitorais. No Brasil, o voto continua sendo nominal. Poderia ser distrital ou misto, como já existe em alguns países da América do Sul. Devíamos ter ido para as ruas, defender a reforma política".
Cartel do jornalismo online
A regulação da mídia existe nos Estados Unidos, na França, na Alemanha, na Grã-Bretanha, em Portugal, na Austrália. Não tem nada a ver com censura ou interferência na autonomia dos jornalistas. Hoje nós vemos, no Brasil, a monopolização da mídia. No jornalismo on-line, por exemplo, eu considero algo surpreende que a Associação Nacional de Jornais (ANJ) já esteja discutindo, à luz do dia, o preço único da venda do jornal eletrônico. Isso é cartel. Não entendo isso, como também não entendo por que a TV a cabo tem uma publicidade cada vez maior, cada vez mais e mais propagandas. Você liga a TV por assinatura e tem que assistir propagandas, como no canal aberto. Então porque é paga? Deveria ser gratuita. Outra coisa: hoje a imprensa acusa, julga e condena, antes mesmo da Justiça. Como é que pode? A condenação só se dá quando a sentença é transitada em julgado, até então há a presunção da inocência. Com a imprensa, isso parece não ocorrer. A discussão sobre a regulação da mídia é uma necessidade.
"Minha história é a história da esquerda"
Deputados como Roberto Jeferson (PTB-RJ), Pedro Correia (PP-PE) e o próprio José Dirceu (PT-SP), cassados nos desdobramentos do escândalo do mensalão, podem ser anistiados e recuperar seus direiitos políticos, caso o Congresso aprove um projeto do deputado Ernandes Amorim, de Roraima, coicindentemente do mesmo partido de Jeferson, o pivô do imbroglio político.
Sabe o que Zé Dirceu acha da ideia?
"Sou totalmente contrário a este projeto. Não me consultaram e, se fosse consultado, teria sido contrário. Eu não tenho nenhuma participação nisso. Quero ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal, para provar a minha inocência, com a cabeça erguida e mostrar que estva defedendo o PT do Presidente Lula. Minha história é a história da esquerda. Não temo a justiça".
"O PT merece governar São Paulo novamente"
Mesmo apontada como a preferida nas pesquisas de opinião à Prefeitura de São Paulo, a senadora Marta Suplicy, foi "convencida" a desistir de sua pré-candidatura pelo PT para apoiar o ministro da Educação, Fernando Haddad, o candidadto ungido por Lula e sacramentado pela presidente Dilma Roussef. José Dirceu gostou a decisão:"Prevaleceu o consenso, o acordo e a unidade do partido na base da aliança. A Marta considerou que era melhor ela retirar a sua pré-candidatura e os vereadores, prefeitos, deputados estaduais e deputados federais que a apoiaram já declararam seu apoio a Fernando Haddad. O PT sai unido para buscar aliança, para voltar a governar São Paulo, onde venceu, em 1988, com Luíza Erundina e em 2000, com a própria Marta Suplicy. Esta é uma eleição que o PT vai ganhar, até porque José Serra [ex-governador], Geraldo Alcmin [atual governador] e Gilberto Kassab [prefeito] têm problemas entre eles. Os problemas vão se acumulando na cidade de São Paulo e estão todos os dias, aí, na mídia. O PT merece governar São Paulo novamente".
"O PSD foi um golpe mortal na oposição, que já estava dividida"
"A oposição está divida, mas não está morta. Respeito muito a oposição. Ela tem um papel muito importante na fiscalização dos atos do executivo. É o que espera os seus eleitores. Na democracia, a oposição tem a voz e a vez. Mas, nós queremos crescer. Para isso, temos que ter a capacidade de transformar em voto o grande apoio da sociedade ao ex-presidente Lula e a presidente Dilma Roussef. A oposição também quer crescer. Faz parte do jogo político. No Brasil, a direita está divida, bastante dividida. Quando o Freire [deputado federal] convida o Serra para o PPS, isso mostra, claramente, esta divisão. Em São Paulo, a divisão do PSDB é total e frontal entre os grupos alckmistas e serristas. Estamos asssistindo à divisão do PSDB e praticamente a extinção do DEM e a Bahia é prova disso, onde os democratas não têm um único vereador na capital. Vejam o Kassab, por exemplo. Ninguém acredita que ele criou o PSD sozinho. Os governadores puseram as mãos no PSD. Não sei se na Bahia ocorreu isso... [risos]. O PSD foi um golpe mortal na oposição".
PT juntará a fome com a vontade de comer e a sede com o desejo de beber
O PT e os partidos da base aliada do governo federal vêm com muita ao sede ao pote, com muito apetite, nas próximas eleições. Na Bahia, o governador Jaques Wagner prevê a conquista de 340 das 417 Prefeituras em jogo. Zé Dirceu compartilha do mesmo otimismo de seu correlegionário baiano: "O PT vai marchar bem nas próximas eleições. Aqui, na Bahia, houve um grande avanço neste cinco anos de governo de Jaques Wagner. Vamos pedir os votos dos baianos pelo que fizemos durante estes cinco anos. A obra de Wagner está aí e é reconhecida pelo povo baiano. Vamos ter um excelente resultado, aqui na Bahia e no resto do Brasil. Tenho certeza de que nós vamos fazer dois terços das Prefeituras do Brasil, o PT e os partidos da aliança da Presidente Dilma".
À Bahia vou em férias passear...
"No ano passado, passei as férias na Bahia. Este ano, vou fazer o mesmo, tomar muita capirinha, tomar muito sol, banho de praia e comer acarajé".

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