segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O Brasil descobre a África



Crescimento acelerado de países africanos atrai para o continente brasileiros que vão trabalhar na agricultura, construção civil em universidades

Débora Rubin
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NOVIDADE 
O corretor Leandro Dalpino recebeu uma proposta de
trabalho para viver em Angola, gostou e quer ficar um ano e meio
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O paulistano Leandro Romeu Dalpino, 37 anos, nunca tinha cogitado morar na África. Até receber uma proposta para ser corretor de imóveis em Angola. O gaúcho Frademir Saccol, 51, estava prestes a se aposentar e curtir os netos quando se viu recomeçando em Gana. Já o professor universitário Edílson Marques da Silva Miranda, 45, sempre foi apaixonado pela temática africana. Quando recebeu um convite para dar aulas numa faculdade angolana, não pensou duas vezes. Os três fazem parte de um grupo que está começando a migrar para o continente africano de olho nas oportunidades que estão surgindo em seus 54 países – em especial em Angola e Moçambique, onde se fala português, que crescem em ritmo acelerado depois de anos de estagnação após guerra civil. Ajuda o fato de os países desenvolvidos, rotas clássicas da migração brasileira, estarem em crise, como os Estados Unidos, Japão e as nações europeias.

Com uma população diversificada, culturas e línguas variadas, existem opções para todos os tipos de brasileiros no território africano. Do turista que quer conhecer o lado exótico até aquele que vai a negócios. Em comum, todos os países têm uma característica: está tudo por fazer. “É um eldorado, a terra das oportunidades”, dá a dica o agrônomo Saccol, que foi trabalhar em uma lavoura de arroz a 150 km de Acra, capital de Gana. Há três anos no país, hoje Saccol se orgulha de ter introduzido a cultura do plantio profissional do arroz. Para isso, teve de se habituar ao clima – é verão o ano todo, à falta de condições básicas de infraestrutura – ele tem um gerador e um tanque de armazenamento de água e à alimentação. Mesmo com dificuldades de conseguir carne, ele consegue fazer churrasco de vez em quando. “Quase tudo aqui é importado”, diz. Hoje, está casado com uma psicóloga ganense, com quem formou família.
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SONHO
A estudante de veterinária Jacqueline Muniz e a jaguar
Thia, no Lion Park, na África do Sul, onde foi voluntária
O gostinho de desbravar um território onde os países ainda estão em construção também seduziu o professor de marketing Miranda. Docente na Universidade Estadual Paulista (Unesp), ele passou dois anos dando aulas na Universidade Independente de Angola, onde acompanhou de perto uma nação que começa a criar uma cultura de ensino superior. “Depois de 40 anos em guerra, é um sonho poder ir para a faculdade”, conta. O corretor de imóveis Dalpino penou para se adaptar no primeiro mês em Luanda. Hoje, tem amigos e uma rotina que inclui bons restaurantes, baladas e viagens aos fins de semana. “Quero ficar pelo menos um ano e meio”, diz ele, que tem a moradia e a alimentação bancadas pela empresa, uma das razões pelas quais muitos se animam a ir, pois o custo de vida nos países africanos é alto. Outra razão é a adoração pelo Brasil. “Eles conhecem nossa música, nossas novelas e amam nosso futebol”, conta Dalpino.

O professor e o corretor são exceção entre os brasileiros de Angola. A maioria que está lá trabalha com construção civil. São engenheiros, mestres de obra, eletricistas, pedreiros e pintores que são levados pelas grandes empreiteiras brasileiras como Odebrecht, Camargo Corrêa e Queiroz Galvão. A dificuldade de achar mão de obra especializada é uma das principais razões para se contratar profissionais do Brasil. Segundo a Embaixada Brasileira em Luanda, a população verde e amarela já foi maior por lá. Entre 2006 e 2007, eram 30 mil brasileiros. Hoje, ultrapassa os dez mil. A crise nos países de economia graúda afetou as construtoras. Já em Moçambique, quase metade dos mais de três mil brasileiros é formada por missionários religiosos.
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RECOMEÇO 
O gaúcho Frademir Saccol vive há três anos em Gana, onde formou uma nova família
De acordo com o professor de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Cláudio Oliveira Ribeiro, um novo grupo começa a sair do País em busca da experiência africana: jovens de classe média e alta, que falam inglês e, por isso, não se limitam aos países de língua portuguesa. E acreditam que a vivência é importante para sua formação humana. “Eles vão para trabalhar em ONGs enquanto estão na faculdade, mas acabam se encantando e voltam depois”, diz ele, especializado em África contemporânea. Jacqueline Muniz, 21 anos, estudante de veterinária, é um exemplo. Nas últimas férias, trabalhou como voluntária no Lion Park, em Johannesburgo, na África do Sul, onde amamentava filhotes de leão (seu sonho desde que viu “O Rei Leão” quando menina), trocava a comida dos bichos, limpava o parque e recebia turistas. “Quero voltar”, afirma. Apesar do “custo África” – preços exorbitantes e falta de condições básicas – o continente virou opção. “Estamos aguardando mais brasileiros”, avisa Saccol, já com a carne na grelha, à espera de seus conterrâneos para um churrasco gaúcho em Gana.

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