Uma sequência absurda de ameaças de morte acabou vencendo Marcelo Freixo, o homem que enfrentou as milícias cariocas e agora é obrigado a se refugiar no Exterior
Wilson AquinoDESPEDIDA
O deputado Freixo ficou famoso, serviu de modelo ao professor
ético do filme “Tropa de Elite”, mas acabou vencido pelo crime
Em três anos, a polícia ficou sabendo de 27 planos para assassinar o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL/RJ), 44 anos. Quase uma ameaça de morte por mês. Mas foi só no mês passado que soou o alarme máximo: os órgãos de inteligência da Polícia carioca detectaram sete planos para acabar com a vida dele, todos encomendados por milicianos. Mesmo para alguém como Freixo, que já havia incorporado a ameaça de morte à rotina, foi um baque violento. O deputado, segundo depoimentos de seus amigos e familiares, ficou muito abatido. Em meados de outubro, quando compareceu à Câmara dos Vereadores para ser homenageado como cidadão honorário da cidade do Rio de Janeiro não conseguia mais disfarçar a emoção. Engasgou na introdução de seu discurso: “A minha mãe... a minha mãe... a minha mãe e os meus filhos nunca me pediram para recuar, porque eles sabem que se isso acontecer, eles (os milicianos) teriam conseguido me matar, mesmo sem tirar a minha vida.” Na terça-feira, 1o de novembro, mesmo depois de ter visitado o Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que lhe prometera mais segurança, Freixo foi obrigado a desistir. O crime tinha vencido: o deputado que combateu as milícias cariocas embarcou numa viagem organizada às pressas para destino ignorado no Exterior, com a família, a convite da Anistia Internacional. Começou, assim, o exílio forçado do homem que serviu de modelo para o professor ético do filme “Tropa de Elite”.
O último dia de Freixo no Rio foi triste. Chovia e fazia muito frio. Embora fosse viajar em poucas horas para uma longa temporada fora do País, o parlamentar ainda não tinha arrumado a mala. Foi em meio à correria que ele conversou com a reportagem de ISTOÉ. Tinha a expressão de fadiga e os olhos arregalados. “Nesse momento, estou indo provisoriamente, mas, dependendo da situação, pode ser que seja de vez”, disse. Segundo o colega de partido, o deputado federal Chico Alencar, Freixo andava “agoniado, abatido, muito estressado”. Em seu último fim de semana no Rio, ele foi – sempre acompanhado de um séquito de seguranças - a uma comemoração de aniversário de um amigo no bar Bip Bip, em Copacabana, na zona sul. Talvez tenha sido o único momento de descontração a que se permitiu. A mulher de Freixo, a jornalista Renata Stuart disse à ISTOÉ que a viagem é, neste momento, necessária para todos os familiares. “A pressão está muito grande. Acho que a gente precisa viver pelo menos alguns dias em paz. Poder respirar. Andar na rua sem segurança. Caminhar numa praça”, afirmou. O deputado e sua família não davam um passo no Rio sem que alguns dos 23 seguranças estivessem por perto. A família só andava de carro blindado e a residência do casal era vigiada 24 horas por dia por policiais militares. “Num estado carente de referências do Poder Público, os melhores quadros estão sendo silenciados pelo crime organizado”, lamentou o teólogo Antonio Carlos Costa, presidente da Organização Não Governamental Rio de Paz, entidade que denuncia os assassinatos no Estado do Rio plantando cruzes na praia de Copacabana. O cientista social e ex-oficial do Batalhão de Operações Especiais (Bope), Paulo Storani, acha que Freixo tem de sair de cena, mesmo, neste momento. “Um afastamento temporário desarticula o suposto plano, permite que os informes circulem e a polícia investigue. Neste ponto está o grande desafio: chegar aos protagonistas das ameaças.” O secretário de Segurança Pública do Rio, delegado José Mariano Beltrame, afirmou, por meio de nota, que “apesar de anônimas, todas essas informações (ameaças) foram verificadas e devidamente processadas pelos órgãos de inteligência das polícias Militar e Civil e Secretaria de Segurança.”
O deputado passou a ser fortemente perseguido por milicianos desde que conseguiu instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj )para investigar as ações das milícias em 2008. Assim como ele, a juíza criminal Patrícia Acioli lutava contra esses criminosos. O assassinato dela, em agosto, com 21 tiros, fez reabrir um antigo trauma em Freixo. O irmão dele, Renato, também fora assassinado a tiros, cinco anos antes, ao tentar conter o avanço de um grupo de segurança privada clandestina (o embrião das milícias), no condomínio onde morava, em Niterói – o mesmo município fluminense em que a juíza Patrícia sofrera o atentado fatal. “Da morte dela pra cá, as denúncias aumentaram. Eles foram capazes de executar uma juíza, torturar jornalistas, podem muito bem matar um parlamentar”, disse Freixo à ISTOÉ.
O último dia de Freixo no Rio foi triste. Chovia e fazia muito frio. Embora fosse viajar em poucas horas para uma longa temporada fora do País, o parlamentar ainda não tinha arrumado a mala. Foi em meio à correria que ele conversou com a reportagem de ISTOÉ. Tinha a expressão de fadiga e os olhos arregalados. “Nesse momento, estou indo provisoriamente, mas, dependendo da situação, pode ser que seja de vez”, disse. Segundo o colega de partido, o deputado federal Chico Alencar, Freixo andava “agoniado, abatido, muito estressado”. Em seu último fim de semana no Rio, ele foi – sempre acompanhado de um séquito de seguranças - a uma comemoração de aniversário de um amigo no bar Bip Bip, em Copacabana, na zona sul. Talvez tenha sido o único momento de descontração a que se permitiu. A mulher de Freixo, a jornalista Renata Stuart disse à ISTOÉ que a viagem é, neste momento, necessária para todos os familiares. “A pressão está muito grande. Acho que a gente precisa viver pelo menos alguns dias em paz. Poder respirar. Andar na rua sem segurança. Caminhar numa praça”, afirmou. O deputado e sua família não davam um passo no Rio sem que alguns dos 23 seguranças estivessem por perto. A família só andava de carro blindado e a residência do casal era vigiada 24 horas por dia por policiais militares. “Num estado carente de referências do Poder Público, os melhores quadros estão sendo silenciados pelo crime organizado”, lamentou o teólogo Antonio Carlos Costa, presidente da Organização Não Governamental Rio de Paz, entidade que denuncia os assassinatos no Estado do Rio plantando cruzes na praia de Copacabana. O cientista social e ex-oficial do Batalhão de Operações Especiais (Bope), Paulo Storani, acha que Freixo tem de sair de cena, mesmo, neste momento. “Um afastamento temporário desarticula o suposto plano, permite que os informes circulem e a polícia investigue. Neste ponto está o grande desafio: chegar aos protagonistas das ameaças.” O secretário de Segurança Pública do Rio, delegado José Mariano Beltrame, afirmou, por meio de nota, que “apesar de anônimas, todas essas informações (ameaças) foram verificadas e devidamente processadas pelos órgãos de inteligência das polícias Militar e Civil e Secretaria de Segurança.”
O deputado passou a ser fortemente perseguido por milicianos desde que conseguiu instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj )para investigar as ações das milícias em 2008. Assim como ele, a juíza criminal Patrícia Acioli lutava contra esses criminosos. O assassinato dela, em agosto, com 21 tiros, fez reabrir um antigo trauma em Freixo. O irmão dele, Renato, também fora assassinado a tiros, cinco anos antes, ao tentar conter o avanço de um grupo de segurança privada clandestina (o embrião das milícias), no condomínio onde morava, em Niterói – o mesmo município fluminense em que a juíza Patrícia sofrera o atentado fatal. “Da morte dela pra cá, as denúncias aumentaram. Eles foram capazes de executar uma juíza, torturar jornalistas, podem muito bem matar um parlamentar”, disse Freixo à ISTOÉ.
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