segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Quem é o que pensa a 1ª presidente da Petrobras



Quem é o que pensa a 1ª presidente da PetrobrasFoto: Divulgação

MARIA DAS GRAÇAS FOSTER, QUE SERÁ A PRIMEIRA PRESIDENTE DA MAIOR EMPRESA DO BRASIL, DIZ QUE “MORRE PELA PETROBRAS”; AMIGA PESSOAL DE DILMA ROUSSEFF, ELA JÁ SUPEROU UM ESCÂNDALO EM FAMÍLIA E TERÁ GRANDES DESAFIOS NA ESTATAL

23 de Janeiro de 2012 às 06:01
247 – Aos poucos, e sem fazer alarde, a presidente Dilma Rousseff começa a imprimir em seu governo uma marca cada vez mais feminina. No núcleo duro do poder, ela é assessorada por três mulheres: Gleisi Hoffmann, na Casa Civil, Ideli Salvatti, na Articulação Política, e Helena Chagas, na Comunicação. Agora, pela primeira vez em sua história, a Petrobras será comandada também por uma mulher. É Maria das Graças Foster, que assume o cargo em 13 de fevereiro, no lugar de José Sergio Gabrielli, que assumirá uma secretaria no governo de Jacques Wagner, na Bahia.
Graça Foster representa uma escolha pessoal de Dilma. Ex-diretor da área de gás e energia, ela estará à frente da maior empresa brasileira, avaliada em mais de US$ 285 bilhões na BM&FBovespa e terá a missão de executar um plano de investimentos que supera US$ 225 bilhões nos próximos quatro anos. Assim como Dilma, Graça é apaixonada pela Petrobras e já declarou em entrevistas recentes que seria capaz de “morrer pela empresa”.
De acordo com reportagem da revista Exame, a ministra Dilma Rousseff conheceu a atual diretora de gás da Petrobras em 1999, quando era secretária de Energia do governo do Rio Grande do Sul. Na época, Graça era uma das gerentes responsáveis pela implantação do gasoduto entre a Bolívia e o Brasil. Desde então, sempre que tem chance, indica a amiga para postos que considera estratégicos. Dilma já a colocou na Secretaria de Petróleo e Gás do Ministério de Minas e Energia, na presidência da Petroquisa, subsidiária de petroquímica da estatal, e no comando da BR Distribuidora, outra subsidiária, e finalmente foi a avalista para o atual cargo de diretora da Petrobras.
Graças a seu estilo duro e muitas vezes inflexível, ela ganhou um apelido desairoso dentro da estatal: "Caveirão". Além disso, foi acusada de favorecer negócios de seu marido, o consultor Colin Foster, mas sobreviveu às denúncias. "Sei que as pessoas torcem para não me ter como chefe", disse ela à Exame. "Sou muito dura, reconheço, mas também abraço e beijo quem trabalha bem."
Avessa à imprensa, ela concedeu uma de suas poucas entrevistas à revista “Prata da casa”, feita pela Universidade Federal Fluminense. Leia alguns trechos:
Prata da Casa: Por que a senhora escolheu Engenharia Química? E por que a opção pela UFF?
Na verdade, eu passei os cinco anos da faculdade me perguntando se deveria estar fazendo Engenharia Química, ou Mecânica, ou Elétrica ou Civil. Cada matéria que eu estudava, despertava meu interesse por uma área diferente. Eu acho que escolhi Engenharia Química porque, no pré-vestibular, eu tive um professor de química muito bom, Paulo Henrique, do Bahiense, que dava aulas divertidas, ensinando tabela periódica. Um dia, ele apontou para mim e disse, “garanto que essa moça vai fazer Engenharia Química”. Eu respondi que sim, “eu vou fazer Engenharia Química”. Na verdade, eu sou engenheira, escolhi bem a Engenharia. O fato de ser engenheira química foi por acaso.
A opção pela UFF aconteceu porque eu precisava trabalhar e a UFF oferecia a possibilidade de iniciar o curso no 2º semestre, o que me permitiria trabalhar um tempo e guardar algum dinheiro porque, na UFF, o curso era em tempo integral com horários espalhados. Então, optei pela UFF, embora morasse na Ilha do Governador, tendo o Fundão ali pertinho. Por outro lado, foi uma grande alegria passar para a UFF porque minha referência era minha tia Clélia, irmã do meu pai, única pessoa que eu conhecia naquela época, tanto na família do meu pai, quanto na família da minha mãe, que tinha nível superior, tendo se formado em Farmácia pela UFF. A UFF significava muito pra mim por causa dessa tia.
Prata da Casa: Quando se graduou?
Eu me formei em dezembro de 1978.
Prata da Casa: Recorda-se daquele período, de algum fato marcante?
Lembro de muitas coisas, a Escola de Engenharia, lembro de muitos encontros. Para mim, as coisas eram bastante difíceis porque, logo no segundo semestre da faculdade, eu engravidei, tive uma filha. Eu tinha dificuldades financeiras para estudar e, com uma filha, era mais difícil ainda, mas, ao mesmo tempo, era uma grande motivação para que eu trabalhasse e superasse essas dificuldades. Então, era muito legal. Lembro muito da minha filha correndo pelos corredores da UFF. Às vezes, eu não tinha com quem deixá-la para fazer prova, então, eu pedia a alguma amiga para ficar com ela brincado no corredor. Para assistir aula era menos difícil, mas, para fazer prova, era complicado, eu tinha que fazer prova correndo porque Flávia estava no corredor, correndo de um lado pra outro. Isso foi bem legal.
Também havia outras coisas boas. A gente fazia umas festas com vinhos e queijos, a gente se divertia, tocava violão, cantava. Nos nossos encontros, colegas nos contavam histórias de pessoas que haviam sofrido as marcas da ditadura. Sempre tinha um irmão mais velho que tinha passado algum sufoco. Irmãos mais velhos, com cinco, seis ou sete anos a mais que nós, tinham passado por severas dificuldades na ditadura. Eu me lembro muito bem disso e também das festas que fazíamos, dos trabalhos de grupo. Coisas muito boas de serem lembradas.
Prata da Casa: Antes de entrar na Petrobras, aos 24 anos, teve outras experiências profissionais?
Fiz alguns estágios. Fiz estágio no Instituto Nacional de Tecnologia, na Divisão de Papel e Papelão, com Dr. Valmir. Lembro muito dele, uma pessoa que me deu muitas oportunidades. Ele era consultor e eu fazia alguns trabalhos particulares para ele, na prancheta – naquela época, sem AutoCAD e coisas do tipo –, então, eu conseguia ganhar algum dinheiro extra além do estágio.
Fiz estágio na General Electric, durante quase dois anos, na fábrica de lâmpadas e na área comercial. Foram experiências bastante ricas. Além disso, eu dava aulas particulares, fazia muitas coisas, mas, para minha carreira como engenheira química, esses dois estágios foram muito bons.
Depois disso, já formada, antes de entrar na Petrobras, trabalhei um ano e meio na Nuclen – Nuclebrás Engenharia. Fui o primeiro lugar, no Brasil, no curso da Nuclebras - Projeto Urânio III – Naquela época, eu fiz pós-graduação em Engenharia Nuclear na Coppe/UFRJ – foi quando tive a honra de estudar na UFRJ. Depois trabalhei seis meses no escritório da Nuclen até fazer o concurso para a Petrobras. Então, antes, eu tive essa experiência, não mais como estagiária, mas, como engenheira nuclear.
Prata da Casa: O que significou ingressar na Petrobras?
Significou muita coisa. Significou, antes de mais nada, um acerto. Eu poderia dizer que foi um sonho, mas, na verdade, foi um acerto. Comecei no Cenpes (Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello), trabalhando nas áreas de Perfuração e de Produção.
Prata da Casa: Com uma carreira de sucesso e ascensão na Petrobras, como a Sra. concilia a vida profissional com a particular?
De todas as perguntas, esta é a mais difícil. Na verdade, minha vida particular é que se adapta à Petrobras, não o contrário. Para mim, existe a Petrobras e a minha vida; não a minha vida e a Petrobras. A Petrobras é a prioridade na minha vida, ainda mais depois que meus filhos cresceram, são independentes. Mas, na verdade, sempre foi assim, a minha vida particular é que se adaptou à Petrobras. Como meu marido, meus filhos, minha mãe, enfim, toda minha família tem um imenso orgulho da Petrobras, eles entendem isso perfeitamente. Eles me incentivam, me apoiam para que eu tenha essa dedicação toda à Petrobras.
Prata da Casa: O que significou ser a primeira mulher a ocupar um cargo de diretoria na Petrobras?
Para mim, é importante, como profissional, ocupar um cargo na Diretoria da Petrobras. Ainda mais porque eu fui estagiária na Petrobras e entrei no primeiro nível da Engenharia, como o que seria, hoje, profissional júnior. Vinte e oito anos se passaram e fui empossada diretora, mas não valorizei o fato de que era a primeira mulher a ocupar o cargo. As pessoas chamaram minha atenção para isso. Para as mulheres, tal fato foi uma quebra de paradigma. Não chamo, de jeito nenhum, de preconceito, a questão não é essa. A questão é que eu olhei e vi, “nossa, eu sou diretora da Petrobras” e as pessoas disseram, “e você é uma mulher”. Então, eu disse, “é, então, eu sou diretora da Petrobras e a primeira mulher a ocupar o cargo”.
Prata da Casa: Como você definiria a sua carreira profissional?
Emocionante. Sempre estive desenvolvendo atividades que exigiram criatividade e inovação. Onde eu estive, desenvolvi novas áreas de atuação da Companhia. Um exemplo foi a criação da Engenharia de Poço na Petrobras – antes havia Perfuração e Produção, que eram áreas distintas dentro da área de Exploração e Produção.
Quando fui para Brasília, para o Ministério de Minas e Energia, fui para criar, com a ministra Dilma Rousseff, a Secretaria de Petróleo e Gás, que não existia na estrutura deste ministério. Antes disso, quando eu trabalhava na Área de Gás e Energia da Petrobras, antes de ser diretora, trabalhei na comercialização de gás, no desenvolvimento do mercado de gás no País.
Quando voltei de Brasília, fui atuar em atividades que existiam de forma muito reduzidas ou não existiam. Por exemplo, na petroquímica, comecei a trabalhar na criação da nova petroquímica no País, através de aquisições, fusões e incorporações societárias. Então, a gente trabalhou na reestruturação da indústria petroquímica no Brasil.
Trabalhei no desenvolvimento do Programa Nacional de Biodiesel, em Brasília, depois fui para a BR Distribuidora, criar essa área de biodiesel dentro da BR. Daí, já como diretora, voltei para o Gás e Energia da Petrobras para, efetivamente, trabalhar a dimensão energia elétrica na Companhia. Enfim, sempre lidei com desafios para desenvolvimento de novos projetos e produtos. E sempre em áreas bastante tensas, como a área de geração de energia elétrica, na qual tudo funciona em tempo real. A maior definição é: cercada de desafios e grandes emoções, essa é a minha vida na Petrobras.
Prata da Casa: Que conselhos a Sra. daria aos jovens que estão iniciando a vida profissional?
Estudem. Se estiverem no curso de graduação, dediquem-se a este curso de forma intensa e completa. Não adianta fazer nada pela metade. O mercado demanda profissionais que buscam a excelência, que sejam criativos, com conhecimento básico, fundamental, bastante denso, sustentável. Profissionais que procurem focar, mas buscando disciplinas que complementem sua formação. Hoje, é inadmissível um engenheiro especialista em máquinas térmicas, por exemplo, mas que faça questão de não falar sobre economia. Ele tem que ter uma formação técnica bem estruturada, mas tem que ter cultura geral. Precisa conhecer economia, um pouco de política, ter outros elementos que façam dele um profissional distinto dos demais.
Ser bom em matemática e física não basta mais. É preciso focar em uma área de conhecimento, mas precisa se completar. Tem que conhecer sobre cultura, arte, geografia, ter um bom discurso sobre história do Brasil e história mundial. Enfim, é preciso ler. Além disso, é interessante desenvolver uma atividade esportiva para adquirir habilidades de trabalho de equipe. Ser um profissional que transmita saúde, que fale mais de uma língua é muito conveniente. Basicamente, é preciso estudar, focar, complementar a sua área de atuação, cuidar do peso para se apresentar como um profissional saudável, não só em conhecimento, mas também fisicamente.
Prata da Casa: Como a Sra. analisa a questão energética no Brasil? Quais as principais ações desenvolvidas para ampliar a oferta de energia no país?
Hoje, o Brasil está muito bem no que se refere à questão energética. Podemos olhar o futuro sabendo que é possível planejar o crescimento econômico do País porque o que se planeja em termos de demanda de energia para o futuro encontra oferta material.
A Empresa de Pesquisa Energética (EPE), empresa do Governo Federal ligada ao Ministério de Minas e Energia, vem realizando leilões de energia desde 2004, diversificando as fontes geradoras de tal forma que, nos próximos 10 anos, a economia possa crescer de acordo com o PIB projetado e a energia de diferentes fontes possa entrar ano a ano para sustentar esse crescimento. Ou seja, em 2004, fez-se uma revisão do modelo do setor elétrico e o Governo voltou a planejar energia numa visão de médio e longo prazo.
Essa diversificação de fontes de energia é algo fantástico de que o Brasil dispõe. No mês de outubro, 85% do que o Brasil produziu de energia veio de fonte hídrica, apesar de estarmos, no momento, enfrentando uma seca significativa, se comparada à situação do ano passado, devido ao fenômeno La Niña.
Temos em torno de 10% de gás natural na matriz elétrica no mês de outubro. Poderíamos estar gerando ainda mais. Na média dos últimos três meses, utilizamos 26,8 milhões de m³/dia de gás natural, chegando a gerar 6.659 MW e temos potencial para fazer mais geração porque temos mais capacidade instalada para gerar e temos mais gás para colocar no mercado para gerar ainda mais energia elétrica.
É importante ressaltar que o gás permite uma geração de energia literalmente limpa. Apesar de não ser renovável, a emissão é bastante pequena se comparada a outras fontes, mas, como hoje se usa um grau de tecnologia bastante grande nos sistemas de geração, temos emissões em níveis bem reduzidos e bem controladas.
O fato é que a geração térmica no Brasil, no mês de outubro, foi 14% da matriz elétrica, dividindo-se entre gás natural (10%), carvão (1,5%) e energia nuclear (2,8%). Hoje, por exemplo, não estamos gerando com óleo combustível.
A biomassa começa a entrar de forma relevante na matriz energética brasileira, como também a eólica que, há seis ou sete anos, sequer aparecia na matriz energética. Hoje, a eólica já possui uma capacidade instalada de 835 MW e, até 2013, poderá alcançar 5,3 mil MW.
A biomassa também cresce à medida que avança a produção de combustíveis líquidos. Ou seja, com o avanço da produção de etanol, a biomassa passa a apresentar uma grande oportunidade para geração de energia através de bagaço de cana. Na safra 2008/2009, a produção de etanol no Brasil atingiu o recorde de 27,6 bilhões de litros, podendo chegar a 28,4 bilhões de litros na previsão para a safra 2010/2011. A produção de cana de açúcar, que na safra 2008/2009 foi de 573 milhões de toneladas, poderá passar para 652 milhões de toneladas na safra 2010/2011. Segundo a EPE, a capacidade de geração de energia a partir da biomassa, que, hoje, é de 5.380 MW, poderá alcançar 8.520 MW em 2019.
Então, o Brasil é riquíssimo em termos energéticos, distinto de outros países em desenvolvimento, porque tem uma matriz bastante diversificada. Somos um País autossuficiente em petróleo. A Petrobras fez o Brasil autossuficiente em petróleo e, com o pré-sal, a possibilidade de aumentar a produção é grande. Chegaremos a 2020, produzindo 4 milhões de barris de petróleo por dia.
Uma vez que energia é sinônimo de soberania, o Brasil está muito bem. Somos o segundo maior e o mais eficiente produtor de álcool do mundo a partir da cana de açúcar. E, além de dispor de fontes de energia diversificadas, o que é fantástico é que o Brasil dispõe de tecnologia para fazer uso de todas elas, quais sejam: petróleo e gás natural em lâminas d’água profundas e ultraprofundas, em camadas do pré e do pós-sal; carvão mineral; energia hidráulica; eólica; solar; e a partir da biomassa.

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