Admirado e criticado a cada desfile, o carnavalesco Paulo Barros surpreendeu mais uma vez. Diferentemente dos últimos anos, sua Unidos da Tijuca não chegou hoje à apuração como uma clara favorita ao título, o segundo da carreira dele. Depois de seguidos vice-campeonatos entalados na garganta, ele só havia vencido em 2010, com o enredo "É segredo!", que iniciou sua marca de encantar a plateia com surpresas e truques de ilusionismo já na comissão de frente.
Curiosamente Barros leva mais uma vez o troféu para a comunidade do Morro do Borel, na zona norte, fazendo concessões em relação à modernização que vem tentando imprimir ao carnaval do Rio. Em 2010, só conquistou os jurados ao apresentar também alegorias mais tradicionais. Já neste ano, parou de resistir ao pedido do presidente da Tijuca, Fernando Horta, para elaborar um enredo sobre Luiz Gonzaga. Mas avisou logo que não faria um desfile biográfico convencional, o que ele, sem meias palavras, classificou de "muito chato".
"É o resultado de um trabalho de um ano. Foi dito que eu não gostava de fazer enredos tipicamente brasileiros. Mesmo não sendo um enredo autoral meu, abracei a ideia. Tenho que me apaixonar pelo que faço e eu sou apaixonado pelo meu trabalho", disse Barros ontem ao chegar à quadra da Tijuca recebido aos gritos de "campeão". Ele confessou que chorou muito com a conquista.
Aos 49 anos, o carnavalesco da Tijuca está longe da unanimidade e, para muitos, vem construindo uma imagem arrogante ao criticar abertamente as convenções das escolas de samba. Para outros, é um gênio incompreendido. Sem esconder que detesta explicar suas criações, Barros diz fazer alegorias simples e objetivas, que retratam uma cena só, mas sempre espetaculares.
Nascido em Nilópolis, na Baixada Fluminense, ele cresceu perto da Beija Flor e acabou se tornando mais tarde o principal rival da escola subvertendo padrões na defesa de que os desfiles precisam ser vistos cada vez mais como espetáculos cênicos, onde cabem inclusive figuras da cultura pop.
Por outro lado, Barros nunca escondeu que teve no maior mito da Beija Flor, o carnavalesco Joãosinho Trinta, sua principal inspiração para trocar a carreira de comissário de bordo pela de mago do carnaval. No desfile de segunda-feira, ele fez destaques que retratavam reis no seu abre-alas exibirem a face do mestre, que morreu no ano passado, sob a legenda de "rei do carnaval".
Assim como seu ídolo, Barros tem alcançado seu principal objetivo desde que estreou no Grupo Especial pela Tijuca, em 2004: incomodar. Enquanto Trinta emplacou o luxo como padrão, Barros introduziu já naquele ano as alegorias humanas como uma tendência repetida pelas outras escolas. Mas ele já chamava a atenção no mundo do samba desde 1993, quando começou na pequena Vizinha Faladeira e ainda passou por Arranco e Paraíso do Tuiuti, no Grupo de Acesso.
Revelado pela Tijuca, que mudou de patamar entre as grandes escolas, Barros logo teve o passe valorizado comprado pela Viradouro, em 2007, onde exercitou sua criatividade produzindo mais polêmicas, como um carro alegórico retratado de ponta a cabeça. Os jurados não gostaram e a escola também não, o que viabilizou a volta à Tijuca, onde Barros se diz mais à vontade para criar. Quando finalmente venceu em 2010, Barros se declarou "absolvido" e este ano chegou a dizer que a vitória não era mais uma obsessão.
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