Sob o impacto da entrada em cena de José Serra, Fernando Haddad reuniu-se com o conselho político que o orienta na campanha à prefeitura de São Paulo. O encontro dos petistas foi monopolizado pela novidade tucana.
Terminada a reunião, os repórteres crivaram Haddad de indagações sobre Gilberto Kassab. Um personagem que, depois de tricotar com Lula e o petismo, alinhavou o apoio do seu PSD a Serra e ao tucanato. Haddad recorreu à ironia:
“É a famosa volta dos que não foram. É a perda do que nunca foi oferecido de fato. Nunca houve uma proposta formal de apoio.” Apagou da crônica a conversa em que Kassab oferecera a Lula o apoio ao seu pupilo em troca da indicação do vice.
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A portas fechadas, Haddad irritou-se com os conselheiros. Disseminou-se na reunião a avaliação segundo a qual o ingresso de Serra torna o jogo mais difícil. Uma impressão, a propósito, compartilhada por Lula.
Na contramaré do realismo, Haddad gastou um pedaço do encontro tentando infundir otimismo na alma de seus operadores. Em termos práticos, a conversa resultou em pouca coisa além do óbvio.
Sem Kassab, o PT decidiu reforçar o assédio a legendas que, em Brasília, integram o condomínio governista. Com 6% no Datafolha, Haddad entra na campanha como um postulante ‘teledependente’.
Por ora, o PT não conseguiu atrair para a coligação de Haddad nenhum partido. A cinco meses do início da propaganda eleitoral, o candidato dispõe, por enquanto, apenas do tempo de tevê do próprio PT -pouco menos de cinco minutos.
As investidas do PT se concentram sobretudo em duas legendas: PR e PSB. A primeira mostra-se mais propensa a negociar. Mas exige compensação que independe de Haddad e do PT. Quer que Dilma Rousseff lhe devolve a pasta dos Transportes.
Quanto ao PSB, encontra-se mais próxima do PSDB. O presidente estadual da legenda, Márcio França, é secretário de Turismo do governo tucano de Geraldo Alckmin. O presidente nacional, Eduardo Campos, faz tabelinha com Kassab.
Os petistas que auxiliam Haddad tentam calibrar a ansiedade. Realçam o fato de que o prazo para o fechamento da coligação é junho. Crêem que, em menos de quatro meses, o candidato terá o espaço de televisão de que necessita.
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Planeja-se injetar nas negociações uma tese nova: com Serra, a eleição municipal nacionaliza-se. E daí? Para o PT, as legendas que devotam lealdade ao governo Dilma e a tudo que ele representa têm o dever de apoiar Haddad.
Toda essa discussão se processa contra um pano de fundo que exibe uma trinca. A corrente majoritária do PT, Construindo um Novo Brasil, reivindica mais poder no núcleo decisório da campanha.
Hoje, quem dá as cartar no comitê de Haddad é a turma do diretório municipal, à frente o vereador Antonio Donato. Ele é próximo de Marta Suplicy, que se mantém distante da campanha. Esse grupo se opôs à troca de chamegos com Kassab.
Quer dizer: não bastasse o desafio de buscar a união com outros partidos, o PT vê-se às voltas com a necessidade de unificar-se consigo mesmo. A legenda parece ressentir-se da falta da voz de comando de Lula, momentaneamente silenciada.
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