domingo, 26 de fevereiro de 2012

Kassab diz que Serra desistiu de ser presidente


O político é mais ou menos como o ator. Todos os outros morrem apenas uma vez. O político e o ator são reincidentes. Podem morrer várias vezes. Ressuscitam noutros papéis, novinhos em folha.
Neste final de semana, José Serra morreu e renasceu em poucas horas. Foi à cova o Serra avesso à ideia de voltar à prefeitura de São Paulo depois de ter amealhado 44 milhões de votos numa disputa presidencial.
Veio à luz o Serra devotado à sua cidade. Arde-lhe na alma o desejo de voltar a ser prefeito. Para concretizar o sonho, manda às favas o projeto de governar o país. O novo Serra foi traduzido por Gilberto Kassab.
“Essa questão [de Presidência] está encerrada na vida do Serra”, disse Kassab. “Ele abandona esse projeto. Ele deixou isso muito claro. […] Ele entendeu que deveria abandonar esse projeto. E ele abandonou.”
Segundo Kassab, todas as “preocupações”, os “projetos” e os “estudos” de Serra estão agora 100% concetrados em São Paulo. “A cidade ganha com um grande pré-candidato, depois um grande candidato e prefeito. Os próximos cinco anos dele serão voltados para a cidade.”
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A referência temporal não é gratutita. “Cinco anos”, trombeteou Kassab, como a enfatizar que Serra, uma vez eleito, não cairá na tentação de trair de novo a confiança dos eleitores.
Não vai trocar a prefeitura por uma nova candidatura ao Planalto, eis o que Serra terá de realçar. O petismo de Fernando Haddad afia o discurso. Vai ressuscitar um compromisso assumido por Serra em 2004.
Em campanha, apôs o jamegão num documento (cópia abaixo). Em sabatina promovida pela Folha, comprometeu-se a cumprir os quatro anos de mandato. Eleito, rasgou o comprimisso em 2006. Foi à cadeira de governador.
O primeiro desafio do novo Serra será o de convencer o eleitorado de que o velho Serra, aquele político obcecado pelo Planalto e decidido a não virar a página para trás, morreu neste final de semana.
O PT dirá: é óbvia a impossibilidade. Ou o eleitor é inteligente ou é crédulo. Se é crédulo, não pode ser inteligente. E o PSDB: a inteligência está no exercício de renovar a credulidade.

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