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CONVERSA FOI ENDOSSADA POR LULA; OCORREU ONTEM, NO AEROPORTO DE CONGONHAS, EM SÃO PAULO; SENADORA NÃO RESPONDEU SE ACATARIA PEDIDO; "FOI UM APELO", DEFINIU MINISTRA HELENA CHAGAS; FERNANDO HADDAD ULTRA-FORTALECIDO
A presidente Dilma Rousseff fez um apelo à senadora Marta Suplicy, do PT (SP), para que abandone sua pré-candidatura à prefeitura da capital paulista nas eleições de 2012. Endossada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a conversa aconteceu ontem, no Aeroporto de Congonhas, minutos antes do embarque da delegação brasileira à França, onde a presidente participará do G20 de Cannes, nesta quinta e sexta-feira.
Segundo a ministra-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Helena Chagas, o encontro foi solicitado pela senadora e durou entre 10 e 15 minutos. "Dilma fez um apelo, afinada com o presidente Lula, para que Marta desista da candidatura", informou aos jornalistas brasileiros, justificando: "Marta foi a melhor prefeita que São Paulo já teve. É uma das lideranças do PT, mas Dilma apelou para que ela permaneça como primeira vice-presidente do Senado, onde ela tem um papel muito importante para o governo".
Segundo a ministra, Marta tem um papel estratégico no Senado, onde exerce o cargo de primeira vice-presidente - o substituto imediato do presidente da Casa, José Sarney. O Planalto avalia ainda que a senadora voltou a mostrar sua importância no congresso nos últimos dias, quando "teve um papel decisivo na aprovação de pacotes importantes".
Para ilustrar o que dizia, Helena Chagas citou o Programa Nacional de Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), sancionado na segunda-feira após ser aprovado no Senado em 18 de outubro. "É fundamental para o governo ter uma maioria sólida no Senado", disse a ministra. De acordo com Helena Chagas, a conversa foi informal e marcada pela amizade entre a presidente e a senadora.
Durante o encontro, Marta não respondeu se acataria o pedido de Dilma e Lula - o que na prática abriria caminho para a candidatura do ministro da Educação, Fernando Haddad, o preferido do ex-presidente. Ja em Cannes, o Planalto esperava uma manifestação da senadora abandonando sua intenção de disputar a indicação do PT à prefeitura.
Leia abaixo reportagem de 247 "Marta contra todos para barrar operação Haddad", publicada em 16 de setembro, que apontava para o crescente isolamento da senadora em seu próprio partido:
Marco Damiani_247 – A julgar pelas pesquisas, o PT terá uma eleição com grandes chances de vitória em São Paulo, em outubro do próximo ano, a partir de uma candidata favorita. Mas também pelo que mostram os levantamentos de opinião, o PT poderá largar na última fila, com um verdadeiro azarão que jamais disputou um cargo público pelo voto.
Entre esses extremos, o partido está sendo levado a escolher a segunda opção. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não vacila um segundo em manifestar e reafirmar seu apoio ao ministro Fernando Haddad, dono de 2% de intenções de voto no último Datafolha, sem qualquer sinal de ceder à pré-candidata Marta Suplicy, senadora eleita no ano passado, ex-prefeita e senhora de 31% no mesmo levantamento.
“Você é mais importante no Senado”, disse Lula a Marta, no único diálogo travado entre os dois nos últimos meses, em seu escritório no Instituto da Cidadania, quando ouviu da senadora a disposição dela de ir até o fim em sua intenção de concorrer à Prefeitura.
Hoje, Lula carrega seu candidato Haddad a tiracolo na festa, às 17h00, dos cinco anos de inauguração da Universidade do ABC. Três semanas atrás, ele esteve com o ministro num encontro de outro tipo. Na casa do empresário Josué Gomes da Silva, em São Paulo, o ex-presidente foi o centro de uma reunião com cerca de 20 empresários, aos quais apontou Haddad como o homem a ser apoiado. Política e financeiramente. A Josué, filho do ex-vice-presidente José Alencar, morto este ano, Lula demonstrou sua vontade de tê-lo como vice na chapa de Haddad. Seria a repetição do modelo que, com ele, deu certo: um petista na cabeça, um empresário para ampliar o eleitorado natural do partido. Até aqui, porém, o presidente da Coteminas declina da ideia.
Todos esses movimentos ainda não fizeram Haddad decolar, mas é certo que estão testando ao limite o ânimo e a capacidade de reação de Marta. “Já vi Lula virar resultados de encontros do PT apenas tendo de chamar prefeitos de lado para trocar votos que pareciam cristalizados”, lembra Marta quando está entre os seus correligionários. “Ninguém pode com a força e o prestígio de Lula dentro do partido, mas a questão é que eu nunca estive tão bem como agora, tanto em vontade como em apoio da população, além de ter uma obra a apresentar”, completa ela.
Com efeito, além de liderar todas as pesquisas, em todas as simulações possíveis e, ainda, apresentar uma taxa de rejeição menor do que a costumeira, Marta é vista como uma super star dentro de seu próprio partido. Nos encontros que a legenda está desenvolvendo com a militância nos bairros da capital, ela é sempre a mais aplaudida, disputada para conceder autógrafos e tirar fotografias. Mas isso pode não adiantar nada, reconhecem os que trabalham pela candidatura da prefeita. A própria Marta duvida de suas chances nas prévias já marcadas pela direção do PT.
É a presidente Dilma que poderá atuar como aliada de Marta em seu desejo de obter a candidatura. “Faça o que for melhor para você, mas tenha atenção ao Lula”, disse Dilma à senadora quando Marta levou a ela o desejo de concorrer. Agora, porém, essa frase dúbia é pouco para as necessidades da pré-candidata. Marta olha para o seu lado e não vê aliados que possam conter o desejo de Lula por Haddad. Um deles, o líder do governo na Câmara, Cândido Vacarezza, se esforça para ajudá-la, mas igualmente começa a se pronunciar à maneira em cima do muro, sem se comprometer demais com ela. O ex-secretário geral José Dirceu, certamente o político mais influente, depois de Lula, dentro do PT, há pouco tempo nem considerava Marta como pré-candidata. O presidente da legenda, Rui Falcão, principal auxiliar de Marta em sua gestão municipal e candidato a seu vice na derrotada campanha de reeleição, igualmente não pode lhe dar apoio. Afinal, como presidente da legenda, terá de exercer o velho e confortável papel de magistrado. Os que sempre lhe fizeram oposição interna, em contrapartida, já saem a campo com desenvoltura. “A experiência de Lula em eleições tem de ser levada em consideração”, disparou o ministro Aluizio Mercadante, da Ciência e Tecnologia, ao comentar o Datafolha que dava Marta estourada. Em 2010, quando concorreu ao governo estadual, Mercadante afastou-se de Marta e orientou seu grupo a jogar mais tintas na candidatura de Netinho de Paula, do PCdoB, em lugar de realçar a nominada pelo seu partido. “A verdade é que Marta ganhou a eleição para o senado praticamente sozinha”, diz um interlocutor da pré-candidata.
Além de recorrer a Dilma, mas sem criar o constrangimento de contrapor a presidente a Lula, Marta pretende divulgar a ideia da confecção de um amplo programa de governo, aberto a contribuições da sociedade, de modo a ampliar seu lastro social. Ela vem sendo aconselhada a carregar a bandeira da conciliação e da unidade para anular o esforço lulista de emplacar Haddad. No entanto, quando apresentado a essa estratégia, o ex-tesoureiro do PT e raposa felpuda do partido Delúbio Soares abriu um sorriso. Como amigo de Marta, ele disse: “Esqueçam esse negócio de unidade, o PT é um partido de briga. Se quiserem vencer, tem de ir ‘pro pau’”. Será a disposição para o desgate que ir à briga significa que vai determinar se a senadora levará adiante sua promessa de “ir até o fim” com sua vontade de ser prefeita outra vez. Se vacilar, será difícil convencê-la a trabalhar de verdade por Haddad, que contará apenas com Lula e um partido cujas bases mal o conhecem para chegar onde Marta chegou. Uma eleição para ser ganha, seria, assim, perdida.
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