Foto: WILLIAM VOLCOV/AGÊNCIA ESTADO
BOLA DA VEZ, MINISTRO DO DESENVOLVIMENTO FALA AO 247 E NÃO ATRIBUI AO PT MINEIRO A AUTORIA DAS DENÚNCIAS QUE O ATINGEM; JORNAIS TRAZEM NOVOS ATAQUES SOBRE SUA CONSULTORIA; “JÁ DEI AS EXPLICAÇÕES”, DIZ O MINISTRO; DILMA NÃO IRÁ DEMITI-LO
Leonardo Attuch_247 – A julgar pelas notas plantadas nas principais colunas políticas do País, o Palácio do Planalto atribui ao PT mineiro, em especial ao vice-prefeito de Belo Horizonte, Roberto Carvalho, as denúncias em série que têm atingido o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel. Ele, no entanto, é mais cauteloso. “Não dá para saber de onde isso parte”, disse o ministro ao 247, na noite desta terça-feira, quando foi homenageado como um dos “Brasileiros do Ano” pela Editora Três. Pimentel lembrou ainda um ensinamento do seu pai, que, com a sabedoria mineira, lhe dizia: “Quando alguém apanha, entre uma chibatada e outra, o lombo de descansa”. Só que Pimentel fez uma ressalva: “Se dois batem ao mesmo tempo, fica difícil descansar”.
A suspeita que recai sobre o PT mineiro é simples. Roberto Carvalho gostaria de ser candidato do partido à prefeitura de Belo Horizonte, contra o atual prefeito, Marcio Lacerda, do PSB. Ocorre que Pimentel, assim como o tucano Aécio Neves, apoiou Lacerda – e o PT não se conforma com isso. Há pouco mais de um mês, o prefeito de Belo Horizonte demitiu 17 pessoas ligadas ao PT e, segundo dizem as más línguas mineiras, Pimentel teria sido informado com antecedência. Há, no entanto, quem atribua as denúncias ao grupo ligado ao tucano Aécio Neves, que também apoiou Lacerda. Seria uma forma de enfraquecer Pimentel, uma vez que tanto o ministro como o senador mineiro são potenciais candidatos ao Palácio da Liberdade em 2014.
O fato é que as denúncias estão circunscritas ao universo belorizontino. Reportagem da Folha de S. Paulo desta quarta-feira revela que uma empresa que pagou R$ 400 mil à consultoria P-21, de Pimentel, teve contratos com a prefeitura da capital mineira. Trata-se da QA Consulting Ltda, que dividiu os pagamentos em duas parcelas de R$ 200 mil. Ao todo, Pimentel recebeu R$ 2 milhões pelas consultorias e, segundo ele, “todas as informações foram prestadas”. Teriam sido pagamentos compatíveis com a prática de mercado e com nota fiscal.
O caso Palocci
Além das denúncias, há também uma tentativa de comparar o caso do ministro Fernando Pimentel ao do ex-chefe da Casa Civil, Antônio Palocci. Ambos foram consultores e engordaram seu patrimônio. O jornalista Elio Gaspari também argumenta na Folha de hoje, que, se Pimentel não for demitido, Palocci terá de ser chamado e volta.
Há, no entanto, algumas pequenas diferenças entre ambos. Palocci foi consultor e deputado federal ao mesmo tempo. Palocci também se negou a fornecer a relação dos seus clientes – os nomes que vazaram, como o da construtora WTorre, fizeram negócios com entes públicos. E os que não vazaram despertaram suspeitas ainda maiores. Mas a principal diferença é uma só: Dilma não queria Palocci no governo e Dilma quer Pimentel ao seu lado. E, por isso mesmo, ainda que seja colocado na incômoda posição de “bola da vez”, ele não será derrubado.
Leia, abaixo, o artigo de Elio Gaspari:
“Se a doutora Dilma acha que pode manter Fernando Pimentel no Ministério do Desenvolvimento, deve chamar de volta Antonio Palocci, pedindo-lhe desculpas pelo mau jeito. Ambos fizeram fortuna dando consultorias a empresários. Palocci ganhou R$ 7,5 milhões em quatro anos e perdeu a chefia da Casa Civil. O repórter Thiago Herdy revelou que Pimentel coletou R$ 2 milhões em menos de dois, a partir do final de janeiro de 2009, quando deixou a Prefeitura de Belo Horizonte.
O ministro argumenta que sua experiência a serviço da cidade justifica uma remuneração de cerca de R$ 1,2 milhão líquidos. Como sua empresa, a P21, foi desfeita em dezembro de 2010, "isso dá cerca de R$ 50 mil por mês, é uma remuneração compatível com o mercado de executivos".
Não se conhece a lista de clientes de Palocci, mas sabe-se que a Federação e o Centro de Indústrias de Minas Gerais, pagaram R$ 1 milhão a Pimentel por nove meses de consultoria. Para o sindicalismo patronal, esse é um santo dinheiro, pois não é necessário ganhá-lo para fazer os cheques. O numerário vem da Viúva, pelos impostos que incidem sobre as folhas de pagamento. O patronato reclama da carga tributária e do "custo Brasil", mas não quer largar esse mimo.
Se Pimentel pudesse apresentar os estudos que fez para a Fiemg, tudo estaria resolvido. Ele diz que prestou "uma consultoria direta", seja o que for o que isso significa.
O general Brent Scowcroft, presidente do Conselho de Inteligência do presidente George Bush e assessor para assuntos de segurança nacional de dois de seus antecessores (Bush pai e Gerald Ford) recebia US$ 300 mil anuais para comandar o escritório de consultoria do ex-secretário de Estado Henry Kissinger em Washington. Pimentel faturou o dobro, só com a Fiemg.
Em 1986, os melhores fregueses de Kissinger pagavam US$ 420 mil anuais. Na presidência da Fiemg, o doutor Robson Andrade, atual mandarim da Confederação Nacional das Indústrias, pagou cerca de US$ 550 mil a Pimentel. Um verdadeiro caçador de talentos.
Seu consultor fora prefeito de Belo Horizonte e era candidato ao governo de Minas. Viria a ser um breve coordenador da campanha de Dilma Rousseff e, com sua vitória, foi para o ministério. Os empresários brasileiros não são perdulários, apenas sabem que o dinheiro vindo da Viúva tem um zero a mais.
Em fevereiro de 2010, Pimentel dizia que seu patrimônio não chegava a R$ 1 milhão. Com a P21, em dois anos, amealhou algo como o dobro do que acumulara em outros 30 de vida adulta. Justificando o desempenho, diz que essa "foi a forma que eu tive de ganhar dinheiro e sobreviver".
Em janeiro passado, o petista Patrus Ananias, um de seus antecessores na Prefeitura de Belo Horizonte, deixou o Ministério do Desenvolvimento Social onde, ao longo de seis anos, movera orçamentos de
R$ 40 bilhões e foi sobreviver batendo ponto como funcionário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
Pimentel é um comissário histórico e está no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Sua freguesia está no andar de cima. O exercício do poder deu-lhe acesso ao programa Bolsa Consultoria. Patrus Ananias, pobre homem, cuidava da clientela do Bolsa Família”
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