A polícia dos EUA prendeu na semana passada o empresário brasileiro Roberto Ribeiro, apontado como dono de contas bancárias que receberiam dinheiro arrecadado na intermediação de negócios com a União, no episódio que levou à demissão da ex-ministra Erenice Guerra (Casa Civil) em 2010.
Ribeiro, acusado de contrabando de cigarros e lavagem de dinheiro, é genro do ex-diretor dos Correios Marco Antônio Oliveira, que foi apontado como integrante do grupo que intermediava os negócios.
A Justiça determinou ainda o bloqueio de US$ 19 milhões (cerca de R$ 35 milhões) em contas e bens de Ribeiro e suas empresas. Ele é dono de uma importadora de cigarros e de uma das maiores locadoras de carros de luxo dos EUA, em Miami.
O nome de Ribeiro surgiu em depoimento do consultor Rubnei Quícoli, que tentava obter financiamento do BNDES para uma empresa.
Como a Folha revelou, a empresa Capital, dos filhos da então ministra Erenice, intermediava o negócio. Todos negam irregularidades.
Segundo os papéis em posse do consultor, a Capital pediu R$ 240 mil em seis parcelas mais 5% sobre o total a ser liberado pelo banco. A EDRB pretendia obter R$ 9 bilhões do BNDES.
Marco Antônio é tio de outro sócio da Capital, o advogado e ex-servidor da Casa Civil Vinícius Castro. A denúncia levou à queda da ministra no dia em que foi divulgada pela Folha.
Quícoli afirmou que Marco Antonio, um dos supostos negociadores do empréstimo, o orientou a depositar dinheiro em contas controladas por Ribeiro em Hong Kong.
Quícoli e Ribeiro confirmaram à Folha terem se reunido em um hotel em São Paulo para discutir negócios, mas o empresário nega que tenha discutido o pagamento de propina.
"Enviei as informações bancárias a pedido do sr. Quícoli, para o mesmo checar com seu banco a possibilidade de fazer negócios com uma ou outra", escreveu Ribeiro à Folha na época. Quícoli recebeu das mãos de Ribeiro um cartão da Belcorp of America, registrada em nome dele na Flórida.
O suposto esquema de Ribeiro nos EUA, segundo o inquérito, efetuou centenas de transações que visavam dissimular a origem de dinheiro e bens. O dinheiro entrava numa das contas e saía no mesmo dia. Foram cinco anos de investigação, que contou com agente infiltrado nos negócios de Ribeiro e escutas telefônicas.
As investigações também identificaram indícios de uso de offshore para ocultar bens e negócios suspeitos com um brasileiro de Las Vegas. A casa de Ribeiro em Orange County foi invadida na operação.
A Folha tentou localizar advogados de Ribeiro hoje, sem sucesso. Também enviou e-mails a uma de suas empresas, mas não houve resposta. A reportagem não conseguiu localizar o sogro dele nem outros familiares.
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